| Foto: Nelson Jr./SCO/STFPorto Velho, RO - Recentemente, o ministro do STF, Flávio Dino, exigiu critérios de transparência para o Congresso na utilização das emendas pix e de comissão. Até a questão se resolver, o ministro bloqueou temporariamente o pagamento de emendas impositivas ao Congresso Nacional.
Para o parlamento, a ação do STF foi combinada com o poder Executivo para garantir mais recursos ao Governo Federal. Como resposta, uma Comissão do Congresso cortou R$1,3 bilhão de pagamento do Governo Federal ao Poder Judiciário. O dinheiro seria utilizado para recompor perdas relativas ao Teto de Gastos, como o não pagamento de auxílio moradia.
Independentemente da motivação do bloqueio – se foi ou não retaliação ao suposto consórcio STF-governo na questão das emendas -, a medida é correta, pelo menos do ponto de vista econômico. Primeiro, porque o montante de R$1,3 bilhão de reais não é pequeno, ainda mais num período de ajuste fiscal. Segundo, porque já temos o Judiciário mais caro do planeta, e qualquer dinheiro extra a esse Poder é um tapa na cara da população brasileira.
O crédito extraordinário aberto de R$1,3 bilhão de reais advém do Governo Federal, por meio de impostos pagos pelo contribuinte e com empréstimos contraídos junto à sociedade brasileira, e não faz parte da meta fiscal de 2024 (déficit primário zero com tolerância de -0,25% do PIB).
Embora a medida não atinja o cálculo do resultado primário, a cifra atinge, de fato, as contas do Governo. Afinal, haverá uma saída de caixa de R$1,3 bilhão dos cofres públicos brasileiros para despesas do Judiciário, afetando o resultado nominal do Governo (total de arrecadação menos gastos).
Esse tipo de despesa extra, num momento delicado da nossa situação fiscal, faz toda a diferença. Com R$1,3 bilhão seria possível construir hospitais, escolas e obras de saneamento básico.
Para justificarem o recebimento dessa cifra, utilizada para recomposição de salários, benefícios e privilégios, os operadores do Direito público costumam argumentar, dizendo que “tem que pagar, porque está na lei”. Pode até estar na Constituição; no entanto, há algo que antecede a lei: a realidade. Um direito só é viabilizado se houver recursos para prover esse benefício.
É claro que há ainda recursos para viabilizar este pagamento. Porém, há consequências no mundo real.
O excesso de gastos do setor público é a principal causa de impostos e juros elevados no BrasilTanto os impostos como os juros penalizam o setor produtivo, prejudicando a criação de emprego e renda para a classe média e os mais pobres.
A diferença é que o cidadão comum, penalizado pela perda de renda dos últimos anos – em boa parte ligada ao elevado gasto público, que impede um crescimento robusto de nossa economia, e gera inflação –, não tem a quem recorrer. A população não consegue pedir por emprego ou recomposição salarial, afirmando que “está na lei, é meu direito”. O indivíduo na fila do pão está sujeito à dura realidade imposta pelas leis econômicas de mercado.
Para piorar, o afegão médio paga pelo poder judiciário mais caro do planeta, equivalente a 1,6% do PIB (algo em torno de R$160 bilhões). Como é possível um país, com população menor e bem mais pobre que a dos EUA, ter o Judiciário mais caro do mundo?
A resposta passa pelo excesso de funcionários e privilégios desse Poder. Em relação aos cargos, por exemplo, qual é a lógica de se ter Procurador de segunda instância? Juiz de segunda instância até faz sentido – para verificar se o de primeira não cometeu nenhuma injustiça no julgamento. Mas um acusador de segunda instância, para validar a acusação da primeira instância, qual é a lógica disso? Este é apenas um exemplo do excesso de cargos, que impõem um custo brutal aos cofres públicos.
Com relação a privilégios, a disfunção é mais escandalosa. Tem de tudo: supersalários, auxílios, veículos de luxo e benefícios exorbitantes.
Todos esses privilégios e cargos são multiplicados pelo excesso de instituições judiciárias existentes no paísA revolta se torna ainda maior, quando assistimos ao mau funcionamento de algumas delas.
Recentemente, uma matéria da Folha de São Paulo trouxe áudios em que o ministro Alexandre de Moraes agia de maneira informal, como um promotor, pedindo para funcionários do TSE criar relatórios com provas que pudessem abastecer o inquérito das fake news no STF. O caso se torna assustador, porque havia uma espécie de perseguição seletiva, inclusive forçando a barra, como no caso em que o Assessor de Moraes pede para o TSE usar a “criatividade” contra a Revista Oeste.
Além do absurdo institucional, que fere os princípios da independência, transparência e sistema acusatório, estamos pagando para o TSE-STF perseguir críticos do sistema? Coincidentemente todos de direita.
Qual foi o crime que Rodrigo Constantino ou Paulo Figueiredo cometeram para ter contas bancárias bloqueadas e passaportes suspensos? Apenas expuseram suas visões e opiniões. Até onde se sabe, não existe um crime de opinião. Mas, no atual arcabouço jurídico brasileiro, toda opinião incômoda é classificada como “fake news”, que também não é crime. Não à toa, o ex-ministro do STF, Marco Aurélio, chamou o inquérito das fake news de “inquérito do fim do mundo”.
A decadência institucional não é de hoje. Durante as eleições, a Gazeta do Povo foi censurada, pois disse que Lula apoiava Daniel Ortega. A Brasil Paralelo também teve um documentário censurado. Tudo em nome da “defesa da democracia”.
Diante de tantos absurdos, é urgente a sociedade entender os ensinamentos do monumental livro “Revolta de Atlas”. A obra deixa claro que o cidadão que produz é quem deveria decidir os rumos da sociedade, e não sustentar mordomias, perseguições e privilégios de burocratas, políticos e tecnocratas.
As autoridades do judiciário são pagas com o nosso dinheiro para justamente proteger o indivíduo dos excessos que o Estado pode cometer contra um cidadão. Infelizmente esta obviedade, pilar da democracia, foi abandonada no Brasil.
Liberdade e democracia se tornaram palavras de fachada, substituídas por privilégios e autoritarismo.
Fonte: Por Alan Ghani
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