Jean-Michel recebe um prêmio por sua obra literária sob o julgamento de outras homenageadas| Foto: Divulgação
Porto Velho, RO - Testamento, que chegou ao catálogo do serviço de streaming Reserva Imovision (pode ser acessado pelo Prime Video) conta a história de Jean-Michel Bouchard (Rémy Girard), um homem culto e prestigiado, porém solitário. Aos 70 anos, ele passa a última fase da sua vida numa preciosa casa de repouso de Quebec enquanto contempla a explosão de sensibilidades como o feminismo e o movimento indigenista do Canadá.
Desde que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1986 por O Declínio do Império Americano, o canadense Denys Arcand se tornou um dos diretores e roteiristas mais ácidos e certeiros do cinema. Testamento é o epílogo de toda uma filmografia que o cineasta apresenta aos 83 anos de idade. O filme lembra muito alguns trabalhos geniais do diretor, como A Era da Inocência (2007) e As Invasões Bárbaras (2003), pela representação e distorção de uma realidade contemporânea que parece ridícula em seu egocentrismo e banalidade.
A vantagem de Denys Arcand sobre outros cineastas cruéis com os tempos em que vivemos, como Ruben Östlund, Paolo Sorrentino e Michael Haneke, é que o seu olhar não é tão dominado pela frieza do cinismo cético e da superioridade intelectual. No centro da história do velho senhor pensativo Jean-Michel está a confiança na redenção humana e em como a família e a cultura podem se tornar antídotos modernos contra o tédio de uma nova geração exaurida por mitologias decepcionantemente individualistas.
É surpreendente que o cineasta canadense continue a ter aquele humor criativo e jovial, capaz de construir tantas cenas engenhosas (destaque para o conflito entre Jean-Michel e manifestantes woke que protestam contra uma obra artística presente na casa de repouso que seria ofensiva aos “povos originários”). Essas passagens dão ritmo e geram reflexão em um filme que abre muitas possibilidades para um debate aprofundado sobre as convenções atuais.
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