Bife na manteiga para alguns, Cuia de farinha para a maioria: o escárnio dos abonos milionários em Rondônia

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Bife na manteiga para alguns, Cuia de farinha para a maioria: o escárnio dos abonos milionários em Rondônia



Porto Velho, RO - A recente decisão da Assembleia Legislativa de Rondônia (ALE-RO) de conceder R$ 5 mil a cada servidor, efetivo ou comissionado, somada à iniciativa do Tribunal de Contas de Rondônia (TCE-RO) de dobrar esse valor para R$ 10 mil, escancara um cenário de privilégios incompatíveis com a realidade enfrentada pelo funcionalismo público estadual e municipal. Tal como na obra Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, onde a cachorra da mulher do padeiro desfrutava de bifes passados na manteiga enquanto João Grilo reclamava insistentemente sobre a cuia de farinha, essa decisão reflete a disparidade de tratamento entre servidores públicos rondonienses.

Embora legal, essa concessão imoral revela uma gestão que favorece um seleto grupo de servidores em detrimento da grande maioria, que amarga anos de defasagem salarial. Categorias essenciais, como saúde e educação, sofrem com condições precárias de trabalho, enquanto veem seus pleitos ignorados por sindicatos que, muitas vezes, atuam mais como aliados do poder do que como defensores de suas bases.

A situação causa revolta. Profissionais que enfrentam o caos diário em hospitais superlotados, como o João Paulo II, e professores que lidam com a precariedade das escolas públicas assistem, indignados, ao privilégio concedido aos "barnabés", como eram chamados os servidores públicos em tempos antigos. Para os beneficiados, o Natal será gordo, enquanto a grande massa do funcionalismo público terá de se contentar com migalhas.

Essa política de abonos vultosos é um reflexo da desconexão entre as elites do poder público e as reais necessidades da sociedade. Vivendo em suas "torres de marfim", dirigentes dessas instituições parecem alheios à realidade de um estado que ostenta o vergonhoso título de ter a pior saúde pública do país. Ao mesmo tempo, dão um péssimo exemplo em tempos de ajuste fiscal e discursos de austeridade, demonstrando um completo desprezo pelo princípio da moralidade administrativa.

Além da insensibilidade social, essas decisões abrem margem para questionamentos jurídicos. O Ministério Público - se é que seus membros também não estão neste maravilhoso trem da alegria natalino - precisa investigar a legitimidade e a ética dessas medidas, que não refletem o interesse público. Afinal, o dinheiro utilizado para esses bônus é público, e sua destinação deveria priorizar investimentos em áreas essenciais.

A analogia com Auto da Compadecida é inevitável: enquanto alguns servidores desfrutam de privilégios equivalentes ao "bife na manteiga", a maioria se contenta com a "cuia de farinha". Resta saber até quando a população rondoniense e os servidores desamparados aceitarão esse tipo de gestão que, mesmo travestida de legalidade, fere os princípios básicos de justiça e equidade.

Fonte: RUBENS COUTINHO, EDITOR DO TUDORONDONIA

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