O presidente Lula e o ministro do STF Alexandre de Moraes.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil.
Porto Velho, RO - O cerco está se fechando. E não é sobre a perseguição insana contra Jair Bolsonaro e seu círculo mais próximo. As notícias das últimas semanas, incluindo a de que Donald Trump venceu as eleições americanas, e o tema da anistia ganhando força no Congresso Nacional em época de troca de comando nas duas casas, parecem ter pressionado Alexandre de Moraes e seu entorno a ponto de tomarem decisões arrojadas – para dizer o mínimo – nos últimos dias.
No dia 13 de novembro passado, o mesmo em que um cidadão desesperado explodiu-se (se é que foi bem assim) na Praça dos Três Poderes, diante do Supremo Tribunal Federal, encontravam-se no Palácio da Alvorada para uma reunião três ministros do Supremo Tribunal Federal (Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Cristiano Zanin); o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues; o Procurador-Geral da República, Paulo Gonet; e, claro, o anfitrião, Luiz Inácio Lula da Silva. A reunião não estava na agenda oficial do presidente Lula – secreta e ilegal, portanto – e só foi revelada por conta dos fogos de artifício que estouraram a poucos quilômetros dali, diante do Congresso Nacional.
A impressão que fica é que a narrativa de uma suposta tentativa de golpe contra Lula já está bastante desgastada, desacreditada para parcela expressiva da população, e os elementos trazidos pela parcela colaboracionista da Polícia Federal para corroborar com a tese são cada vez mais frágeis
O que faziam na reunião, clandestina, algumas das mais altas autoridades da República, incluindo o próprio presidente Lula? Qual o motivo de estarem, às escondidas, reunidas no mesmo ambiente supostas vítimas e pretensos investigadores de narrativas que têm chacoalhado a República? Se a Lava Jato foi enterrada por mensagens trocadas por celular entre juiz e promotor, apesar de todas as provas de corrupção reveladas, o que deve ocorrer então com casos que envolvem os personagens de uma reunião presencial que se pretendia secreta, mas que foi revelada?
Estas perguntas merecem respostas claras, objetivas. Mas já que dificilmente quaisquer dos participantes virá a revelar suas reais ações e intenções, os dias que sucederam tal reunião dão pistas e evidências muito fortes sobre os assuntos que devem ter sido tratados em tal encontro.
A prisão realizada nesta semana – mais uma vez ilegal – de supostos envolvidos numa trama para matar o próprio ministro Alexandre de Moraes, e os então presidente e vice eleitos, Lula e Alckmin, numa reedição fajuta do também precário Plano Cohen que justificou o Estado Novo de Vargas em 1937, demonstra que os escrúpulos são cada vez menos importantes e a narrativa dos poderosos para justificarem suas permanências no poder, cada vez mais desesperada e infundada.
A cobertura jornalística nacional dada ao episódio, com as honrosas e costumeiras exceções como a desta Gazeta do Povo, tem repetido as narrativas policialescas sem a devida apuração. Assim como as incômodas perguntas que devem ser feitas aos participantes da reunião sobre o que trataram no Alvorada na semana passada, é dever do jornalista perguntar (ou perguntar-se) por que uma suposta tentativa de matar Moraes, Lula e Alckmin foi revelada somente agora e medidas cautelares foram realizadas quase dois anos depois dos fatos, quando a informação de que supostamente teria ocorrido essa trama já era do conhecimento da Polícia Federal, no mínimo, desde quando apreenderam o celular de Mauro Cid, há mais de ano. Não é curioso?
A impressão que fica é que a narrativa de uma suposta tentativa de golpe contra Lula já está bastante desgastada, desacreditada para parcela expressiva da população, e os elementos trazidos pela parcela colaboracionista da Polícia Federal para corroborar com a tese são cada vez mais frágeis. Nem o fato de a operação ocorrer em plena semana de realização do G20 no Brasil revelou qualquer solidariedade de outros chefes de Estado presentes ao suposto plano de matar Lula.
Quanto à narrativa de golpe, o que revelam os diálogos privados dos militares presos a respeito de Jair Bolsonaro é que o ex-presidente não estava embarcando na sugestão de qualquer aventura inconstitucional. Mais: as conversas demonstram preocupação dos interlocutores com o Estado de Direito e a democracia no Brasil, esses sim, já violentados por Alexandre de Moraes e por seus colegas do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral. Ordens ilegais, censura, perseguição política: se alguém deu golpe no país, foram aqueles que, justamente, dizem estar agora defendendo a democracia no Brasil.
A escalada autoritária que observamos há anos no país pode, portanto, estar chegando ao seu ápice. Fatores externos, como o interesse internacional sobre o tema no Brasil em particular com a posse de Donald Trump em menos de dois meses, e internos como a troca de comando na Câmara dos Deputados e do Senado da República, estão colaborando para a aceleração desse processo.
A turbulência nos próximos meses tem tudo para ser forte. Mas a julgar pela maneira atabalhoada e cada vez menos criativa de proceder da Polícia Federal e de seus patrocinadores, trata-se de um all-in com grande chance de descredibilizar, finalmente e diante dos olhos de todos, todas as ações e operações abusivas já feitas até aqui.
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