Rejeitar anistia pode virar risco eleitoral para o Centrão em 2026

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Rejeitar anistia pode virar risco eleitoral para o Centrão em 2026


Manifestantes durante a caminhada em prol da anistia aos presos do 8 de janeiro em Brasília (Foto: Vinícius Sales/Gazeta do Povo)


Porto Velho, RO - Embora resistam a uma ampla anistia aos presos do 8 de janeiro, membros do Congresso Nacional oriundos do Centrão entendem que rejeitar qualquer alívio aos condenados pode ter sérios impactos nas eleições de 2026. A avaliação ocorre em meio às negociações entre o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), acerca de um projeto alternativo à proposta de anistia defendida pela oposição.

Desde que a oposição adquiriu as 257 assinaturas necessárias para o requerimento de urgência do PL da anistia, Motta e Alcolumbre buscaram inicialmente barrar o andamento do projeto. No entanto, com a contínua pressão de parlamentares do PL e adesão até de membros da base do governo, bem como do próprio Centrão, os presidentes do Legislativo buscaram uma alternativa para arrefecer a pressão dentro do Congresso.

A explicação para isso, segundo analistas, é que os presidentes do Legislativo dependem de votos da direita em suas bases eleitorais e por isso, apesar da resistência do Supremo Tribunal Federal e do Planalto, deverão oferecer ao eleitorado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) alguma medida efetiva.

Um parlamentar do Republicanos, que pediu para não ser identificado, avaliou que Motta possui um eleitorado próprio e que não teria dependência do ex-presidente em matéria de votação. Entretanto, ele ponderou que a anistia pode passar por um projeto político do deputado paraibano para o longo prazo. Tendo sido o deputado federal mais votado na Paraíba nas eleições de 2022, com 158.171 votos, existe a expectativa de que Motta lance uma candidatura ao governo da Paraíba em 2026.

O caso de David Alcolumbre se assemelha ao de Motta. Ou seja, possui independência eleitoral de Bolsonaro por ter forte articulação em suas bases. No entanto, o senador amapaense pode ter mais dificuldades no próximo pleito se Bolsonaro, ou seu indicado, se posicionar contra sua candidatura. No Amapá, Bolsonaro levou 51,36% dos votos válidos (200.547) no segundo turno de 2022. Já Lula recebeu 48,64% dos votos (189.918).

Centrão mantém anistia em pauta como trunfo político


Para o cientista político Felipe Rodrigues, o tema da anistia se consolidou como uma pauta incontornável no Congresso e ganhou valor político justamente por seu potencial de mobilização eleitoral.

“A questão da anistia realmente se tornou um tema inevitável no cenário político brasileiro, não apenas pelo seu conteúdo específico, mas pelo que representa em termos de posicionamento político para as eleições de 2026”, avalia Rodrigues. “O Centrão, ao buscar uma alternativa intermediária, demonstra uma leitura estratégica do momento, já que a oposição vem conseguindo manter o tema em alta.”

Segundo ele, o debate passou a ser tratado como uma espécie de moeda de troca no Legislativo. “Estrategicamente, é bom manter esse tema ‘próximo’. Como toda moeda de troca valiosa, sua utilidade máxima se dá enquanto permanece em jogo, não quando é finalmente gasta.”

Para o cientista político, o tema deve continuar relevante até as urnas. “Em 2026, será muito difícil para candidatos a deputado federal e senador, especialmente em redutos mais conservadores, não ter uma posição clara sobre o assunto. O silêncio ou a omissão poderiam ser interpretados como conivência com o que parte significativa do eleitorado considera excesso do Judiciário.”

Anistia alternativa busca reforçar 2026 sem Bolsonaro

Além da satisfação com o eleitor, a anistia alternativa tem como objetivo agradar diversos atores políticos, incluindo o próprio Judiciário. Existe o consenso entre membros do Centrão de que o novo projeto deve contemplar os pleitos da oposição, mas também manter Bolsonaro fora da disputa eleitoral.

O ex-presidente foi tornado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por criticar as urnas eletrônicas em uma reunião com embaixadores, em 2022. Com isso, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos), são cotados como as principais alternativas para a vaga de Bolsonaro em 2026.

A movimentação já é percebida pelo núcleo do PL, que ameaça lançar uma chapa pura contra eventuais articulações do Centrão. Em suas redes sociais, o advogado e ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, Fabio Wajngarten, criticou as movimentações por uma candidatura única da direita. Ele afirmou que "direita sem Bolsonaro é direita sem voto".

“Se continuarem nessa palhaçada de ‘Direita sem Bolsonaro’, eu vou manobrar dia e noite por uma chapa PURA”, escreveu. O recado foi direcionado a setores da direita e do Centrão que articulam uma candidatura de “terceira via” ou do que costuma chamar de “direita moderada” sem a influência direta do ex-presidente.

Apesar das declarações de Wajngarten, já existe a compreensão nos bastidores do Partido Liberal de que a sigla terá que negociar uma chapa com outro partido. A reversão da inelegibilidade do ex-mandatário é vista como algo improvável de acontecer devido aos atritos de Bolsonaro com ministros da Corte.

Centrão busca agradar diversos lados ao propor alternativa para os presos do 8/1

A discussão sobre uma possível anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro ganhou força não apenas por pressão da base oposicionista, mas também pela necessidade de o centro político oferecer uma resposta institucional ao episódio.

Para o cientista político Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos, a movimentação do Centrão revela uma tentativa de preservar a governabilidade e evitar desgastes futuros.

“O Centrão, por natureza, atua para manter a governabilidade e minimizar riscos eleitorais”, afirma Arruda. “Diante disso, propor uma alternativa à anistia total é uma forma de tentar equilibrar o jogo: responde a uma base relevante do eleitorado conservador, mas sem endossar completamente os excessos”, opina.

Segundo o especialista, ainda que nomes como Hugo Motta e Davi Alcolumbre não dependam diretamente de Jair Bolsonaro, eles integram coalizões que mantêm vínculos com setores que apoiam o ex-presidente em diversas regiões do país.

“Ignorar completamente essa pauta pode gerar ruídos que reverberam em 2026 — não tanto pelo impacto individual em seus redutos, mas pelas consequências em alianças, apoios regionais e formação de palanques”, avalia.

Fonte: Por Vinícius Sales

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