E agora, Lula, vai culpar também Gabriel Galípolo pela alta da Selic?

Editors Choice

3/recent/post-list

Geral

3/GERAL/post-list

Mundo

3/Mundo/post-list
NASA RO

E agora, Lula, vai culpar também Gabriel Galípolo pela alta da Selic?

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. (Foto: André Borges/EFE)

Porto Velho, RO - Geralmente, os integrantes dos governos petistas têm o péssimo hábito de achar um bode expiatório para ocultar os seus fracassos. Tudo começou com a “herança maldita de FHC”. Na maior cara de pau, os petistas culpavam o governo anterior pelos problemas do país, quando, na verdade, o presidente Lula capitalizava um cenário externo favorável – choque de commodities e migração de investimentos diretos para o Brasil - justamente por ter sido beneficiado por reformas estruturais da administração FHC, como Plano Real, privatizações, Lei de Responsabilidade Fiscal, criação de agências reguladoras, entre outras.

Com Bolsonaro, o fenômeno se repete. O ex-presidente, mesmo com uma pandemia, entregou para Lula um país com crescimento de 3%, resultado primário bem melhor à época de Dilma, inflação relativamente sob controle, dívida bruta em 72,9% e principalmente com uma boa regra fiscal (teto de gastos), que infelizmente foi abandonada em 2023.

Sem surpresas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, logo ao assumir o comando da pasta dizia que pegou um país “quebrado”, quando a situação era exatamente oposta. Novamente, a administração petista se beneficiava de reformas passadas, como a previdenciária e trabalhista, teto de gastos, e independência do Banco Central.

A artilharia não se voltava apenas contra Bolsonaro. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também sofria ataques do governo. Lula acusava Campos Neto, “aquele rapaz”, de atrapalhar o crescimento econômico brasileiro por elevar a taxa de juros Selic - como se a responsabilidade fosse só dele, e não dos demais oito diretores do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom).

A alta dos juros foi justificada direta ou indiretamente pela desancoragem das expectativas inflacionárias

Com a saída de Campos Neto e a entrada de novos diretores, atualmente o Copom conta com 7 membros indicados por Lula, e apenas 2 por Bolsonaro. Entretanto, mesmo com a maioria indicada pelo atual presidente, o Banco Central subiu surpreendente e acertadamente a Selic na última reunião do Copom.

A alta dos juros foi justificada direta ou indiretamente pela desancoragem das expectativas inflacionárias; crescimento de demanda agregada acima da capacidade de oferta, decorrente do aquecimento do mercado de trabalho, dos estímulos fiscais e da expansão do crédito; piora do ambiente externo com as tensões geopolíticas e resiliência da inflação de serviços.

A narrativa de Haddad de que a alta já estava contratada não cola mais. Primeiro, porque as altas previstas na Ata do Copom, de dezembro de 2024, já se ocorreram, quando a Selic atingiu 14,25% a.a. Os aumentos posteriores acima deste patamar, de 0,5 p.p. e de 0,25 p.p, são exclusivamente da nova diretoria do Banco Central indicada majoritariamente por Lula.

Além disso, o mercado financeiro não esperava e não pedia por este aumento. Tanto é verdade que nem a curva de juros, que capta as expectativas de decisões futuras da Selic mais um adicional de prêmio de risco, e nem o Boletim Focus apontavam para uma taxa em 15% a.a. Pelo contrário, o boletim Focus apontava até para uma queda da Selic ainda neste ano, chegando a 14,5% a.a. no final de 2025. Em outras palavras, a manutenção da taxa em 14,75% a.a não iria desagradar o mercado. Então por que aumentaram?

A reposta para alta da Selic se resume a uma inflação persistente, que demora a ceder por contas das políticas expansionistas, de crédito e fiscal, promovidas pelo governo federal, pressionando a demanda agregada acima da capacidade de produção do país.

Outro ponto que desmonta a narrativa do ministro da Fazenda, e reforça o argumento do parágrafo anterior, é o recado da Ata. Claramente, o Banco Central não quer afagar o governo federal. Pelo contrário, o documento responsabiliza de maneira indireta a atual administração pela persistência inflacionária, conforme destacado no trecho do parágrafo 12: “O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”.

Resta saber agora se também vão culpar Gabriel Galípolo, chamando-o de “bolsonarista”.

Fonte: Por Alan Ghani

Postar um comentário

0 Comentários