
Não dá mais para chamar o regime ora vigente no Brasil de outra coisa que não seja ditadura. É uma ditadura alternativa. Não tem general na Presidência da República. É exercida num sistema de sociedade por cotas – metade é do presidente e suas gangues partidárias; a outra parte é do STF. Tem polícia política, é claro, porque, sem bala, camburão, cárcere e tornozeleira, não há ditadura. Sua grande originalidade é que não pretende mandar em tudo. Só manda – e aí manda 100% – naquilo que considera essencial. Obviamente, é o consórcio que faz as leis.
Quer dizer: faz qualquer coisa, ou faz tudo o que quer, e diz que isso é legal, porque são eles mesmos, os sócios, que decidem o que é lei e o que é fora da lei no Brasil. Não há ninguém acima deles; ninguém pode mudar nada do que decidem. O consórcio Lula-STF faz leis sobre uso de linguagem neutra nas escolas, IOF ou terras para índios. Aplica (e, sobretudo, perdoa) multas. Proíbe a construção de estradas de ferro. Conta os votos e diz quem ganhou a eleição.
É um dos momentos mais abjetos da história do STF – escurecido por manifestações de alegria explícita, de parte dos ministros, do governo e da mídia, com mais uma apoteose de crueldade na punição de Jair Bolsonaro. Há intensa satisfação, de todos eles, em mostrar que o réu já está condenado antes de receber a sentença
É uma maravilha, pensando bem, em matéria de desfrutar os bônus de ter uma ditadura e não se aborrecer com os seus ônus. Não requer prática nem habilidade: qualquer semianalfabeto, como é o caso de Lula, ou repetente duas vezes no concurso para juiz de direito, como o ministro Toffoli, pode ser ditador nesse esquema.
Você faz só o que lhe interessa; não precisa fazer o resto do serviço. Censura das redes interessa? Então eles fazem censura nas redes sociais. Prender pessoas indefesas interessa? Então eles socam 14 anos de cadeia na moça do batom.
No setor “prisões”, o que mais fascina a ala carcerária do regime Lula-STF – e especialmente o ministro Alexandre de Moraes – é que acabam de dar uma das exibições mais arrogantes de tirania que já deram até hoje: intencional, selvagem e mesquinha. Sem nenhum motivo coerente, a não ser a satisfação de desejos de se vingar e de humilhar os vencidos, Moraes colocou tornozeleira no ex-presidente Bolsonaro, bloqueou suas comunicações e o proibiu de falar com o filho.
É um dos momentos mais abjetos da história do STF – escurecido por manifestações de alegria explícita, de parte dos ministros, do governo e da mídia, com mais uma apoteose de crueldade na punição de Jair Bolsonaro. Há intensa satisfação, de todos eles, em mostrar que o réu já está condenado antes de receber a sentença. Era comum, nas prisões americanas, que os guardas encarregados de conduzir até a cadeira elétrica os condenados à morte anunciassem em voz alta, ao passar pelos corredores: “Dead man walking”. O costume foi suspenso por excesso de crueldade. Aqui, com a tornozeleira, entrou em sua fase de ouro.
Por J.R. Guzzo
J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em 1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976, período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e Exame. **Os textos do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo.
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