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Até quando nos deixaremos dominar por minorias barulhentas?

Protesto de militantes de esquerda pedindo, ainda, taxação dos "super-ricos" e fim da escala 6"1. (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Porto Velho, RO - A maioria silenciosa se sente impotente. A impressão é de que o mundo enlouqueceu e o debate público foi tomado por gente histérica, agressiva e desonesta. A sensação de estar só faz com que muitas pessoas escolham se retirar da arena pública. Leem, se informam, pensam, mas se calam para não se tornarem alvo. Essa retirada em massa do espaço público, no entanto, é justamente o que dá poder às minorias barulhentas. Pior ainda, passa a dar a sensação até offline de que essas minorias são o espírito do tempo ou a maioria das pessoas.

Essa é uma das distorções mais perigosas da dinâmica digital atual. Foi isso que demonstrou o professor Jay Van Bavel, psicólogo social e professor de psicologia e neurociência da Universidade de Nova York (NYU), autor da obra The Power of Us, que investiga como a identidade de grupo molda o comportamento humano. Seu estudo mais recente, conduzido com pesquisadores de instituições como Stanford e Universidade da Pensilvânia, mostra com dados robustos que as minorias radicais nas redes sociais são percebidas como maioria enquanto a maioria real, que pensa de forma equilibrada e rejeita os extremos, permanece em silêncio por medo de represálias.

É preciso romper essa ilusão. A pesquisa mostra que os moderados formam a maioria, mas uma maioria que se julga minoria. E é justamente essa percepção distorcida que paralisa o debate público. A maioria silenciosa precisa tomar consciência de sua força, de seu número e de sua relevância

Os números são eloquentes. Cerca de 73% dos usuários das principais redes sociais nos Estados Unidos pertencem ao que os pesquisadores classificam como grupo moderado. Eles se informam, refletem e debatem, mas raramente se envolvem em conflitos online. Do outro lado, menos de 6% dos usuários representam as pontas mais radicais, que respondem por mais de 70% dos comentários e publicações com viés agressivo ou político. Isso significa que o comportamento da minoria ruidosa determina o ambiente digital inteiro, afastando os demais.

Outro dado importante é que as pessoas moderadas tendem a abandonar o debate ao menor sinal de hostilidade. Elas interpretam o comportamento das minorias barulhentas como sinal de que a maioria da sociedade pensa daquele modo, o que não é verdade. O ambiente de confronto faz com que se sintam desencaixadas, o que alimenta a percepção de isolamento. Isso cria um ciclo vicioso em que a retirada dos moderados reforça a ilusão de que os extremos são maioria.

Esse mecanismo distorce completamente a noção de opinião pública. A impressão que temos de um mundo em conflito permanente, sem espaço para o bom senso, não é um reflexo da realidade, é uma ilusão gerada por arquitetura digital. As plataformas favorecem o engajamento com base na emoção, e isso privilegia comportamentos extremos. O resultado é que boa parte da sociedade começa a se comportar como se os radicais fossem maioria não só na internet, também offline.

É preciso romper essa ilusão. A pesquisa mostra que os moderados formam a maioria, mas uma maioria que se julga minoria. E é justamente essa percepção distorcida que paralisa o debate público. A maioria silenciosa precisa tomar consciência de sua força, de seu número e de sua relevância. Silenciar para não ser atacado é compreensível, mas manter-se em silêncio acreditando que está sozinha é um equívoco com consequências graves.

A pior consequência é o abandono da arena. Ao abrir mão de participar do debate público, a maioria moderada entrega as decisões e a narrativa a quem grita mais alto. É assim que as pautas radicais ganham espaço, não por representatividade, mas por ocupação. A maioria silenciosa, com medo de se expor, vai cedendo terreno aos poucos até que o absurdo se torne regra. E, nesse ponto, já não basta discordar em silêncio.

Por isso, talvez o ponto mais importante do estudo de Van Bavel seja o apelo à ação coletiva. A força da maioria está justamente na consciência de que não está sozinha. O radicalismo perde o poder quando deixa de ser confundido com voz majoritária. E a única maneira de desfazer essa confusão é que os moderados falem com coragem, com lucidez e com civilidade.

A maioria silenciosa se imagina como uma formiga diante de um leão. Mas os números mostram exatamente o contrário: o leão é a maioria silenciosa. Só falta tomar consciência disso.

Fonte: Por Madekeine Lacsko

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