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Lula terá que optar entre fazer concessões a Trump ou seguir caminho de isolamento

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: EFE/Andre Borges)

Porto Velho, RO - Pressionado por diversos setores da economia e por integrantes do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já dá sinais de recuo no embate com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o tarifaço aos produtos brasileiros. A movimentação acontece após o petista ser convencido de que a disputa contra o norte-americano poderia levar o Brasil ao isolamento a exemplo de países como Cuba e Venezuela.

A mudança de tom foi discutida por Lula com seus ministros ainda na semana passada, depois que o norte-americano manteve a decisão de taxar os produtos do Brasil em 50%. Trump, no entanto, isentou da sobretaxa cerca de 700 produtos nacionais, incluindo o suco de laranja, a celulose e aviões da Embraer. Além disso, os Estados Unidos incluíram o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na lista de sancionados pela Lei Magnitsky.

A primeira sinalização de recuo parte do presidente Lula veio no domingo (3), durante o encontro nacional do PT, onde ele admitiu que as negociações exigem cautela e que há limites na briga com Trump. O petista afirmou que havia uma pressão da diplomacia para amenizar o tom das críticas que ele vinha fazendo contra o presidente norte-americano.

"O governo tem que fazer aquilo que ele tem que fazer. Por exemplo, nessa briga que a gente está fazendo agora, com a taxação dos Estados Unidos, eu tenho um limite de briga com o governo americano. Eu não posso falar tudo que eu acho que eu devo falar, eu tenho que falar o que é possível falar", disse Lula.

Desde o anúncio do tarifaço, o presidente Lula adotou uma postura de embate com Trump e deu ao menos duas entrevistas para veículos de imprensa estrangeiros para criticar o norte-americano, o New York Times e a CNN. A postura acabou repercutindo negativamente na Casa Branca e, apesar da tentativa de alguns governistas, o presidente dos EUA não aceitou abrir negociação com o Brasil.

Integrantes do Planalto comemoraram o que classificaram como recuo de Trump ao isentar diversos produtos do tarifaço. Além disso, o norte-americano sinalizou que o presidente brasileiro poderia telefonar para ele quando quisesse. A movimentação foi vista como um sinal de possibilidade de abertura de diálogo e, por isso, assessores do petista defendem que haja por parte de Lula também sinalizações de recuo.

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou os acenos da Casa Brasil e defendeu um gesto por parte de Lula. “É muito importante a gente preparar essa conversa [entre Lula e Trump]. Tive contato com a equipe do Bessent [secretário de Tesouro dos Estados Unidos] para fazermos uma reunião na semana que vem. Entendemos que as relações comerciais não devem ser afetadas pelas percepções políticas de qualquer natureza. Tenho certeza de que uma conversa com o Bessent vai pavimentar o caminho para um encontro, se for da conveniência dos dois presidentes”, disse Haddad.
Lula é pressionado a não adotar reciprocidade nas tarifas de Trump

Além dos assessores do Planalto, houve uma pressão de diversos setores empresariais para que Lula não aplicasse a Lei da Reciprocidade contra os Estados Unidos. A legislação permite que o Brasil aplique sanções contra um país ou bloco econômico que impuser, de forma unilateral, barreiras comerciais, financeiras ou de investimentos com o objetivo de interferir em decisões "soberanas" do Brasil.

Apesar disso, os governistas tentam agora discutir quais serão eventuais pontos possíveis de negociação com Trump. Nos círculos do governo, a percepção é que até o momento, os Estados Unidos não colocaram na mesa demandas que eles consideram claras e factíveis, mas uma lista ampla e genérica de pedidos, divulgados de várias formas.

Contudo, Trump foi claro e reiterou várias vezes querer o fim da perseguição política contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e da censura de redes sociais americanas. Além disso, foram listados diversos pontos que incomodam Washington, como a pirataria de produtos e a criação de sistemas de pagamento alternativos aos operados por bancos ocidentais.

Os governistas no momento somente enxergam espaço para negociação e possíveis concessões em áreas como etanol, terras raras e posicionamento geopolítico, segundo assessores do Planalto.

Ao longo das últimas semanas, diversos empresários e representantes influentes do setor econômico sinalizaram ao governo petista que retaliar os Estados Unidos será um erro. A avaliação é de que qualquer medida neste sentido isolaria o Brasil e colocaria o país em situação de isolamento similar à de países como Cuba e Venezuela.

A situação do Brasil se tornou mais delicada à medida que os Estados Unidos conseguem estabelecer acordos com diversos parceiros comerciais enquanto o diálogo não avança com o Palácio do Planalto. Além da União Europeia, principal parceiro comercial dos norte-americanos, acordos já foram firmados com Japão, Indonésia, Filipinas e Vietnã, com negociações em andamento também com China e Índia. Segundo analistas, os países que deixarem para negociar por último serão submetidos às piores condições.

Um levantamento feito pela Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) mostrou que 86% das empresas ou companhias rejeitam uma retaliação imediata. Segundo a pesquisa, a adoção de sanções contra os Estados Unidos neste momento agravaria tensões e reduziria o espaço para diálogo.

"Os resultados da pesquisa revelam com nitidez os potenciais impactos que tarifas mais altas representam para os negócios - desde a interrupção de exportações até o redirecionamento de investimentos globais. É fundamental intensificar a busca por uma solução que preserve os ganhos econômicos e sociais da relação entre Brasil e Estados Unidos", explicou Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil.

Além da sinalização de recuo em relação à adoção da Lei da Reciprocidade, Lula também articulou com os ministros do STF possibilidades de reação em relação às sanções contra Moraes, que foi enquadrado na lei Magnitsky Global e está impedido de ser atendido por empresas americanas ou parceiras dos Estados Unidos. Integrantes do governo admitem que não há caminho jurídico efetivo para o Executivo ou o próprio Supremo contestarem as sanções.

A expectativa é de que Lula faça um novo pronunciamento na cadeia de rádio e TV para anunciar um pacote de compensações para os setores afetados pelo tarifaço imposto por Trump. Além disso, Lula deve afirmar que o governo está disposto a negociar a questão das tarifas, mas não a soberania nacional e a independência do Poder Judiciário brasileiro.
Estratégia de Lula para tentar capitalizar crise não surte efeito na popularidade do governo

A sinalização de recuo de Lula também acontece após o levantamento Datafolha mostrar que não houve uma melhora na popularidade do petista após os embates com Trump. O levantamento, divulgado na sexta-feira (1º), mostrou que o petista é reprovado por 40% e aprovado por apenas 29% dos brasileiros.

Na pesquisa anterior, do Datafolha, de junho, Lula tinha 28% de ótimo e bom e os mesmos 40% de ruim e péssimo. O regular passou de 31% para 29%, e 1% não deu opinião. Quando questionados acerca do trabalho de Lula como presidente, foi constatada estabilidade estática de números ante o resultado de junho: 50% o reprovam e 46% o aprovam.

O Datafolha ouviu 2.004 eleitores de 130 cidades no país entre os dias 29 e 30 de julho. A margem de erro de dois pontos para mais ou para menos.

Os números registrados pelo instituto mostram, ao menos até aqui, uma estabilização após a queda histórica da popularidade de Lula. Em fevereiro, por exemplo, apenas 24% avaliavam o petista como ótimo ou bom, o pior nível de seus três mandatos. Do outro lado da curva, a avaliação de ruim ou péssimo chegou a 41%, taxa que se manteve estável com pequenas oscilações dentro da margem de erro até aqui.

O levantamento vai na contramão de outros institutos que haviam apontado, no começo de julho, uma leve recuperação da popularidade do Executivo. Desde então, uma das estratégias do PT foi a de atrelar ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a responsabilidade pela taxação contra o Brasil.

Uma campanha de defesa da soberania feita pelo partido nas redes sociais por meio de inteligência artificial mostra um cachorro caramelo como um patrimônio nacional enquanto ilustra a família Bolsonaro como vira-lata. A ideia do PT é apostar em ataques visando um aumento da rejeição a candidatos da direita que perdure até 2026.

Fonte: Por Wesley Oliveira

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