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O negacionismo da imprensa

Manifestações pró-Trump e por impeachment de Lula e Moraes tomaram as ruas no domingo (3/8), mas a grande mídia preferiu o silêncio. (Foto: Sebastião Moreira/EFE)

Porto Velho, RO - A nova obsessão da imprensa é desacreditar manifestações populares. A importância da imprensa na história da civilização sempre foi associada ao fortalecimento das sociedades. Ou seja: disseminação de informação para o público, em oposição à concentração de conhecimento e poder. Uma imprensa que se dedica a desacreditar manifestações de rua, portanto, desistiu de ser imprensa.

E essa imprensa que desistiu de ser imprensa virou o que? Porta-voz do poder? Fica a dúvida.

Os últimos anos no Brasil concentraram algumas das maiores manifestações populares da história do país. Algum historiador que não seja empregado por institutos de pesquisa coreográficos pode fazer esse levantamento.

Constatará que as vultuosas manifestações da última década, e em especial dos últimos cinco anos, tiveram três dados predominantes: foram pacíficas, tiveram as cores da bandeira nacional e pediam liberdade. Já os principais veículos de comunicação da mídia tradicional oscilaram entre dois pólos: dizer que tinha pouca gente ou associar o ato a propensões fascistas.

No último fim de semana não foi diferente. Manifestações populares expressivas tomaram diversas capitais e múltiplas cidades país adentro. Mais uma vez estavam lá as cores da bandeira, o comportamento pacífico e o pedido por liberdade. No caso, liberdade para a multidão de perseguidos por um regime que essa população que saiu às ruas considera autoritário. E como reagiu a imprensa tradicional?

Abriu a gaveta e sacou seu negacionismo providencial. A disposição de diminuir a realidade é tal, que os ativistas da alquimia jornalística chegam a se dedicar a um método bizarro: comparam entre si manifestações contra o regime atual, para dizer que uma foi menor do que a outra. Contando ninguém acredita.

E as manifestações populares a favor da corrente que conquistou o poder no Brasil? Onde estão? Onde estiveram? Foram maiores ou menores do que elas mesmas? A falta de povo a favor do grupo que a imprensa resolveu defender não comove os negacionistas das redações.

Eles não estão nem aí para esse negócio de gente nas ruas. Mas quando eventualmente um grupelho fingindo defender alguma minoria sai por aí tacando fogo e quebrando tudo, eles chamam de manifestação popular. Que papel triste.

Não deve ser fácil olhar para multidões nas ruas e ficar pensando sofregamente como fazer para diminuir a importância daquilo

Mesmo que não trabalhe na USP ou no DataFolha, algum jeito você vai ter que dar para minimizar o evento.

Sempre se tem o velho expediente de publicar uma foto do início da concentração e destacar os espaços vazios. Já cansaram de fazer isso sem o menor constrangimento. Também podem se dedicar à contagem de quarteirões ocupados - e se tiverem sido dez, ou mais que isso, sempre se pode dizer que ficou aquém de alguma outra manifestação por liberdade no mesmo local. Para o jornalismo da negação, nenhum pedido por liberdade será suficiente.

Será que a história vai expor devidamente os autores desse vexame? Será que o tempo é mesmo senhor da razão? A persistência da escalada mistificadora às vezes nos deixa em dúvida sobre isso. Seja como for, nos dias de hoje, se você está com a consciência em paz, pode se considerar um bilionário.

Fonte: Por Guilherme Fiuza

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