
Porto Velho, RO - A maior parte das mulheres brasileiras ainda desconhece os verdadeiros fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de mama. Uma pesquisa realizada pelo Ipec - Inteligência em Pesquisa e Consultoria revelou que 71% das entrevistadas acreditam que a herança genética é a principal causa da doença, quando, na realidade, ela determina entre 5% e 10% dos casos.
O levantamento mostra outras percepções equivocadas sobre a neoplasia, ou seja, o crescimento anormal e descontrolado de células, que pode ser benigno ou maligno: 70% das participantes não associam o consumo de álcool com o surgimento da doença, enquanto 58% não acreditam que existe relação entre excesso de peso e o desenvolvimento de tumores mamários.
Os dados revelam uma lacuna no conhecimento sobre fatores de risco do câncer de mama, aspectos que podem ser modificados para reduzir as chances de desenvolver a enfermidade. A mastologista Gabriela Aragão confirma, em entrevista à imprensa, que “as mulheres desconhecem esses riscos modificáveis, justamente os capazes de reduzir em até 30% o câncer de mama e que se relacionam aos hábitos de vida”.
A necessidade de disseminação das informações é evidente frente ao fato de que o câncer de mama é o segundo tipo de neoplasia mais comum entre as brasileiras, com 73,6 mil novos diagnósticos anuais, conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Fatores não modificáveis: características pessoais determinantes
Os especialistas classificam os fatores de risco em duas categorias principais. Os não modificáveis são aqueles relacionados às características inerentes de cada pessoa. Conforme informações da Sociedade Brasileira de Mastologia, os principais incluem: ter características anatômicas e hormonais típicas do sexo feminino; envelhecimento; histórico pessoal ou familiar de câncer; e apresentar mutações genéticas específicas.
A doença ocorre, aproximadamente, 100 vezes mais em mulheres do que em homens, segundo dados do National Breast Cancer Organization. A idade exerce papel fundamental: duas em cada três mulheres com câncer invasivo recebem o diagnóstico após os 55 anos.
As mutações genéticas, especialmente nos genes BRCA1 e BRCA2, também aumentam o risco. Outras alterações, como nos genes PALB2 e BARD1, podem influenciar no desenvolvimento da doença. Quando há suspeita de predisposição genética, o paciente oncológico pode ser submetido a testes para confirmar ou descartar a presença dessas mutações.
Fatores hormonais e exposições específicas
A exposição prolongada aos hormônios femininos, particularmente o estrogênio, é um fator de risco. Situações como menstruação precoce - antes dos 12 anos -, menopausa tardia - após os 55 anos -, primeira gravidez após os 30 anos ou nunca ter engravidado aumentam essa exposição hormonal.
A densidade mamária também influencia o risco. Mamas densas, compostas por maior quantidade de tecido fibroso em relação ao adiposo, apresentam maior probabilidade de desenvolver a doença. Nesses casos, os tumores podem ser mais difíceis de serem detectados na mamografia, exigindo exames complementares, como ultrassonografia.
Outro fator é a exposição à radiação, especialmente quando ocorre antes dos 30 anos. O National Breast Cancer Organization cita que tratamentos radioterápicos direcionados ao tórax durante a infância podem afetar as células mamárias. Embora as finalidades da radioterapia sejam terapêuticas em muitas situações, a exposição precoce pode, dependendo da pessoa, favorecer o desenvolvimento futuro da neoplasia.
Prevenção e detecção precoce
O conhecimento sobre fatores de risco não deve gerar alarme, mas conscientização sobre a importância da prevenção e detecção precoce. Como destaca o National Breast Cancer Organization, entre 60% e 70% das pessoas diagnosticadas com câncer de mama não apresentam conexão com os fatores de risco conhecidos, enquanto outras pessoas que possuem múltiplos fatores nunca desenvolvem a doença.
A mamografia regular permanece como a principal ferramenta de detecção precoce. As recomendações variam entre instituições: enquanto o Ministério da Saúde sugere rastreamento a cada dois anos para mulheres entre 50 e 69 anos, sociedades médicas como a SBM indicam exames anuais a partir dos 40 anos – essa diferença de orientações considera fatores como custo-benefício e o aumento de casos em mulheres mais jovens.
Durante o ano todo rosa, campanhas de conscientização reforçam a importância do diagnóstico precoce. Quando detectado em estágios iniciais, o câncer de mama apresenta chances de cura próximas a 100%, além de ser, segundo os mastologistas, o líder de avanços terapêuticos – tanto em medicamentos quanto em procedimentos cirúrgicos.
Fatores modificáveis: estilo de vida como proteção
O sedentarismo figura entre os principais riscos evitáveis: a relação entre falta de atividade física e câncer de mama ainda não está completamente esclarecida pelos cientistas, mas as hipóteses apontam para associação com ganho de peso, processos inflamatórios e alterações nos níveis hormonais.
Outro fator significativo e controlável é o consumo de bebidas alcoólicas, já que mulheres que consomem duas a três doses diárias podem apresentar risco 20% maior em comparação àquelas que bebem apenas uma dose por dia. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça que não existe dose de álcool considerada segura para a saúde.
O excesso de peso, principalmente após a menopausa, também eleva as chances de desenvolver a doença. A maior concentração de gordura corporal pode aumentar os níveis de estrogênio e insulina no sangue, ambos associados ao surgimento de tumores mamários.
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