
Patricia Stedile
Esses dias, tive acesso ao verdadeiro “porquê” de Graham Bell — e confesso que isso me deixou profundamente tocada. É impressionante como, por trás de grandes invenções, quase sempre existem grandes histórias que muitas vezes não vemos.
Antes de ser conhecido como o grande inventor do telefone, Bell era um filho tentando se comunicar com a mãe, que era surda. Na época, as pessoas falavam com deficientes auditivos usando um tubo no ouvido, mas Bell fazia diferente: colocava a boca próxima à testa dela, acreditando que ela poderia sentir as vibrações da sua voz. Seu primeiro “porquê” nasceu ali: conexão.
Mais tarde, Bell viajou para Londres para estudar e se encantou por uma obra do alemão Hermann Von Helmholtz. O detalhe? Ele não sabia alemão. Como então estudar um dos maiores físicos da época? Ele simplesmente continou. A falta de conhecimento no idioma não foi suficiente para detê-lo em sua busca por conhecimento. Seu desejo de comunicar — e de criar soluções para seus problemas — falava mais alto.
Ao estudar o livro de Helmholtz, Bell interpretou de forma errada seus diagramas, acreditando que o som poderia ser transmitido por um fio — algo nunca afirmado. Bell disse mais tarde: “Se eu soubesse alemão, talvez nunca tivesse inventado o telefone”.
Foi essa confusão que acabou levando à criação de um instrumento que conecta milhões de pessoas até hoje — assim como, um dia, Bell tentou conectar-se à sua própria mãe. E é impossível não se emocionar ao perceber a beleza disso.
Bell também dedicou parte da vida à criação de tecnologias que pudessem ajudar pessoas com limitações. Ele foi professor de surdos, pesquisou métodos de comunicação, financiou pesquisas e chegou a fundar uma escola voltada a pessoas com deficiência auditiva.
Além disso, Bell criou, em 1881, uma espécie de “jaqueta de vácuo de metal” para ajudar na respiração de seu filho recém-nascido, que enfrentava problemas respiratórios. Infelizmente, seu filho faleceu, mas o equipamento acabou influenciando a criação de aparelhos que salvariam milhares de vidas em epidemias de poliomielite.
Bell transformou dificuldades em soluções. Transformou dor em propósito. Transformou limitações em invenções. Histórias assim nos lembram que nada do que vivemos é à toa. Não existem acasos.
Vivemos em uma época em que vemos tantas invenções surgirem todos os dias — tecnologias impressionantes, soluções rápidas, inteligências artificiais, sistemas cada vez mais avançados. Mas, pare um pouco e pense: nada supera a inovação voltada a um genuíno porquê. Foram eles que mudaram o mundo. Bell não inventou por inventar; ele inventou porque amava, porque precisava se conectar, porque queria aliviar a dor de alguém.
Se você está buscando criar algo novo, inovar, transformar… não esqueça do seu porquê. É ele que vai guiar cada passo, cada escolha, cada descoberta. É ele que tem o poder de mudar o mundo — como Bell mudou.
E você… qual é o seu porquê?
* Patrícia Stedile é CEO da Engenharia de Comunicação.


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