Estagflação: o alerta de Larry Summers

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Estagflação: o alerta de Larry Summers



Porto Velho, RO - No Brasil, a oposição, em conluio com a mídia, tem apontado para os altos índices de inflação para culpar o governo Bolsonaro por isso, ignorando a Argentina bem ao lado, com inflação mensal maior já do que a Venezuela, ou mesmo o que se passa no resto do mundo, como Estados Unidos e Europa. A inflação, infelizmente, tem sido um fenômeno global.

Isso se deve basicamente aos estímulos estatais distribuídos como recompensa para os lockdowns, uma combinação explosiva de parar a economia e enviar cheques para as pessoas ficarem em casa sem trabalhar. Isso se soma à ruptura na cadeia produtiva global, pela pandemia e agora a guerra de Putin, gerando um choque de oferta. E, por fim, a política monetária frouxa dos principais bancos centrais do planeta.

É aqui que entra o papel do Federal Reserve, o banco central americano. Em coluna publicada esta semana, Larry Summers alerta para o perigo de uma estagflação resiliente, ou seja, um patamar contínuo de alta de preços aliados a um elevado desemprego. Seria o cenário da década de 1970, quando também tivemos choque de oferta no petróleo com a crise no Irã, e um presidente americano fraco, Jimmy Carter, nos moldes de Joe Biden hoje.

Summers, não custa lembrar, é um democrata, foi Secretário de Tesouro no governo Clinton. Seus alertas e críticas ganham mais peso, portanto, do que se viessem de um republicano que já faz oposição sistemática ao atual governo. O ponto central de Summers é que o Fed estaria "atrás da curva" por medo de produzir uma recessão.

"A esperança é que o Fed possa arquitetar a proverbial aterrissagem suave, em que a inflação volte para sua meta de 2% e a economia permaneça forte sem um aumento substancial do desemprego. A julgar por suas declarações até o momento, [Jerome] Powell e seus colegas parecem acreditar que têm uma boa chance de sucesso", escreve Summers. Mas o economista de Harvard está mais cético.

"Tudo é possível, e o pensamento positivo às vezes pode ser auto-realizável. Mas acredito que o Fed não internalizou a magnitude de seus erros no ano passado, está operando com uma estrutura inadequada e perigosa e precisa tomar medidas muito mais fortes para apoiar a estabilidade de preços do que parece provável. A atual trajetória política do Fed provavelmente levará à estagflação, com desemprego e inflação médios em média acima de 5% nos próximos anos – e, finalmente, a uma grande recessão", alerta.

O cenário vislumbrado por Summers não é dos mais tranquilos: "Portanto, há pouca base para confiança na avaliação do Fed sobre os riscos de inflação. Com os mercados de trabalho extraordinariamente apertados ficando mais apertados pelas melhores medidas disponíveis, e a inflação salarial chegando a 6% e acelerando, a inflação alta era um grande risco mesmo antes dos eventos das últimas semanas. 

Agora enfrentamos grandes novas pressões inflacionárias de preços de energia mais altos, aumentos acentuados nos preços de grãos devido à guerra na Ucrânia e potencialmente muito mais interrupções na cadeia de suprimentos, à medida que a covid-19 força os bloqueios na China. Não seria surpreendente se esses fatores adicionassem três pontos percentuais à inflação em 2022. E com os aumentos de preços superando os aumentos salariais, uma espiral salário-preço é um grande risco".

Lembrando que a inflação americana já está girando em torno de 7% ao ano, ou seja, mais três pontos percentuais colocaria o índice na zona de dois dígitos! Isso, para padrão americano, é assustador. Summers aponta a mudança de postura do Fed como principal fator de risco aqui: "Essencialmente, as autoridades do Fed mudaram da tradicional 'remoção da tigela de ponche antes que a festa fique boa' para uma abordagem de 'a tigela de ponche deixa as pessoas felizes, então vamos removê-la apenas quando virmos pessoas desmaiadas de bêbadas'. No ambiente de alta inflação de hoje, essa nova estrutura deve ser abandonada", conclui.

Os economistas utilizam há décadas a metáfora do ponche para ilustrar os riscos do excesso de liquidez injetada nos mercados. É análogo ao dono da festa distribuir bebida "grátis" a noite toda, como se a euforia artificial produzida fosse sustentável. Sabemos que o efeito concreto disso é a inevitável ressaca. E quanto mais adiarmos o encontro com essa realidade, maior será a ressaca.

Larry Summers menciona, então, o ex-chairman Paul Volcker, que teve a coragem de elevar as taxas de juros para ancorar as expectativas do mercado. O risco é usar uma bazuca para matar uma formiga, causando enorme dano colateral. Ou, como gosta de dizer Paulo Guedes, fazer uma cirurgia de córnea com uma britadeira. Contar apenas com a política monetária, sem o auxílio da política fiscal, faz com que a medida seja dura demais para romper a espiral inflacionária.

E é aqui que entra a gestão medíocre de Joe Biden como fator extra de risco: os democratas são desenvolvimentistas keynesianos que acreditam na expansão ilimitada do gasto público como locomotiva do crescimento. Sendo assim, resta ao Fed o fardo de impedir a escalada inflacionária por conta própria, o que demanda medidas bem mais impopulares de sua parte.

Summers conclui: "Para evitar a estagflação e a perda associada de confiança pública em nosso país agora, o Fed precisa fazer mais do que apenas ajustar seus indicadores de política – ele terá que seguir uma direção dramaticamente diferente".

Fonte: Por Rodrigo Constantino

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