
Aviões de combate usados no ataque israelense ao Irã, nesta sexta-feira. (Foto: EFE/Forças de Defesa de Israel)
Porto Velho, RO - Mesmo com todas as suspeitas de um iminente ataque israelense ao Irã nos últimos dias, Israel ainda conseguiu surpreender seu inimigo histórico na madrugada desta sexta-feira (horário local, fim da noite no Brasil). As Forças de Defesa de Israel (FDI) lançaram um devastador ataque, com cerca de 200 aeronaves, contra instalações nucleares iranianas; drones foram usados para atacar o sistema de defesa aérea iraniano, com o objetivo de diminuir a resistência a ser encontrada pelos jatos das FDI, e bases de lançamento de mísseis, para reduzir a capacidade de resposta iraniana contra Israel. Ao mesmo tempo, diversos líderes militares e cientistas que chefiavam o programa nuclear iraniano foram alvos de ataques cirúrgicos.
O resultado foi avassalador. A usina de enriquecimento de urânio de Natanz foi destruída – os danos a duas outras instalações, em Fordow e Isfahan, ainda estão sendo avaliados. Os líderes militares mortos incluem o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Iranianas, general Mohammad Bagheri, e o comandante da Guarda Revolucionária Islâmica, general Hossein Salami; dois dos principais cientistas que estavam à frente dos esforços nucleares do Irã também morreram. Em retaliação, o Irã lançou uma primeira onda de ataque com drones, quase todos abatidos, e uma segunda onda com mísseis balísticos, sem diferenciar alvos militares de centros urbanos.
Um regime como o iraniano com uma bomba atômica nas mãos seria uma ameaça a Israel em escala inédita
Tanto o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, quanto comandantes das FDI usaram a expressão “ameaça existencial” repetidas vezes nas últimas horas. E ela não é um exagero. O Irã jamais reconheceu a existência do Estado de Israel, pelo contrário: faz da destruição do Estado judeu uma razão de existir. Os aiatolás deram e dão apoio financeiro e logístico a grupos dedicados a levar o terror a Israel, como o Hamas e o Hezbollah – mais recentemente, também incluíram os houthis do Iêmen em sua lista. Em outras palavras, é como se o Irã estivesse em guerra permanente contra Israel, embora a lutasse de forma terceirizada. Apenas no ano passado, vendo como os israelenses estavam desmantelando de forma bastante eficaz os proxies iranianos, Teerã lançou dois ataques diretos a Israel, um em abril e outro em outubro.
Um regime como o iraniano com uma bomba atômica nas mãos seria, de fato, uma ameaça a Israel em escala inédita. Algo catastrófico, que a comunidade internacional tentou evitar por meio da negociação inúmeras vezes, sem sucesso. As últimas rodadas de negociação entre Irã e Estados Unidos tinham sido inconclusivas, e um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) afirmava que os aiatolás haviam feito testes nucleares secretos e tinham urânio enriquecido a 60%, nível próximo ao necessário para uma bomba e muito acima do exigido para os fins pacíficos que o Irã sempre alegou perseguir com seu programa nuclear.
No último desdobramento antes do ataque israelense, na quinta-feira, a Aiea afirmou, pela primeira vez em duas décadas, que o Irã estava em “descumprimento de suas obrigações sob o Acordo de Salvaguardas com a agência”, e os iranianos responderam no mesmo dia, prometendo intensificar ainda mais o enriquecimento de urânio. Se Israel tem elementos irrefutáveis para atestar que as últimas negociações não passavam de cortina de fumaça do Irã para ganhar tempo enquanto terminava de preparar sua bomba, os israelenses teriam o direito de agir para impedir que tal ameaça se concretize – mas apenas nesta situação; do contrário, estaríamos diante de uma ação unilateral muito pouco justificável, apesar de todo o discurso iraniano pela aniquilação de Israel.
Mas a que custo Israel dá um passo tão drástico? A capacidade iraniana de retaliação não foi totalmente aniquilada, como bem demonstram os lançamentos de mísseis e drones desta sexta-feira. Além disso, o Irã pode optar por outros alvos, especialmente no Golfo Pérsico, com consequências imprevisíveis e de alcance global, especialmente em caso de um novo choque do petróleo. Assim como seria igualmente imprevisível o futuro do Irã em caso de um cenário ainda mais extremo (embora ainda bem pouco provável), o de queda do regime dos aiatolás – foi sobre os escombros de um outro regime de força, o de Saddam Hussein no Iraque, que surgiram organizações como o Estado Islâmico.
Para Netanyahu, no entanto, esses são riscos que é preciso correr em nome da proteção de Israel. Não há a menor dúvida de que o mundo estará mais seguro se o programa nuclear iraniano for reduzido a pó – se o ataque israelense não tiver conseguido cumprir esse objetivo, é de se esperar uma retomada ainda mais agressiva, que por sua vez levará a novos ataques como o de agora. Tanto aliados tradicionais de Israel, como os Estados Unidos, quanto líderes de nações europeias que reconheceram o direito israelense a se defender e criticaram o programa nuclear iraniano, como Alemanha e França, pediram a ambos os lados para evitar uma escalada no conflito, cientes de que soluções de força em vez de entendimentos negociados sempre trazem mais instabilidade a um mundo já muito carente de paz.
Fonte: Por Gazeta do Povo
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