
Ney Lopes
Lamentei a ausência nestes últimos dias. Estive em SP, onde fiz checkup de saúde, com resultados tranquilizadores. Na internação hospitalar onde me encontrava, pude observar o túnel de alto risco político, em que mergulhou o Brasil nos últimos dias. O debate sobre o IOF, as sanções de Trump e medidas judiciais extremas contra Bolsonaro dominaram o quadro de apreensões generalizadas. Por trás dos acontecimentos, em busca das causas, constata-se que tudo é resultado do extremo radicalismo, a que está submetida a política nacional. Se esse clima não for atenuado, o temor global passará a ser o Brasil e não mais Venezuela ou Cuba.
De um lado, tem-se Trump como um “espalha brasa”, que só acredita em autoridade a base da força e ameaças. De outro, o presidente Lula assume posições semelhantes. Instigou todos aqueles que buscassem uma solução conciliatória nos últimos acontecimentos , denominando-os “traidores da Pátria”. Achou pouco e foi para o Chile convocar países para uma ação conjunta contra os Estados Unidos. Não conseguirá e se desgastará mais
Bolsonaro mais ponderado
Bolsonaro, ultimamente tem revelado certa ponderação nas posições assumidas. (Graças a Deus dá sinais de mudança no temperamento). Mas, infelizmente, no contraponto da sua recuperação emocional, estão os próprios filhos e a inconsequência das facções de celerados, que seguem a sua liderança e comprometem a sua imagem. Está provado, que ele nada sabia sobre a imposição das sanções por Trump. Foi uma decisão isolada do governo americano, que já há algum tempo vinha reclamando posições do governo brasileiro.
Além do mais há uma razão, que pouco se fala, mas considero a causa básica da irritação de Trump. Trata-se de Lula ter liderado no BRICS a busca por criar uma moeda, sem a necessidade de usar a moeda americana. Trump declarou a importância de manter “o status do dólar como a moeda de reserva do mundo. “Se nós perdermos isso, seria como perder uma guerra mundial. Não podemos nunca deixar qualquer um brincar com a gente”- disse ele.
As razões da sanção americana
Pelo visto, as sanções americanas seriam muito mais resultado da agressividade e posicionamento ideológico radical de Lula contra os Estados Unidos, do que pedidos de Bolsonaro e seus filhos. Independente deles, o Brasil seria retaliado.
Diante do quadro consumado, o governo brasileiro aproveitou o “momento” estratégico da fala de Trump, para invocar novamente o nacionalismo e colocar nas costas do ex-presidente Bolsonaro a responsabilidade pelas sanções. Nesse clima acusatório, o ministro Alexandre de Moraes determinou que Jair Bolsonaro use tornozeleiras, como um delinquente comum, o veto ao uso de redes sociais, proibição de sair de casa entre 19h e 6h e durante os fins de semana, proibição de se comunicar com “demais réus e investigados”, incluindo o pai falar com o filho Eduardo Bolsonaro, além de veto a manter contato com diplomatas, embaixadores e frequentar embaixadas. Como destacou o governador Tarcisio de Freitas (SP), “não imagino a dor de não pode falar com um filho. Mas se as humilhações trazem tristeza, o tempo trará justiça”. O governador disse ainda, que não conhece “ninguém que ame mais este país, que tenha se sacrificado mais por uma causa, quanto Jair Bolsonaro”.
Não sou bolsonarista
Não sou bolsonarista, nem faço defesa gratuita. Dói-me a injustiça por ter sido vítima dela. Em 1976, da noite para o dia, sem um inquérito instaurado, sem uma defesa apresentada, sem processo de qualquer espécie (administrativo ou judicial), com as contas de cargo público aprovadas no TCE/RN, sem condenação de qualquer espécie, o governo despótico do presidente Geisel (erroneamente apontado como a favor da distensão política) cassou o meu mandato de deputado federal. No ato não consta nenhum motivo, quando as demais cassações foram por corrupção ou subversão. Tenho o DOU com o ato na íntegra. O governo atendeu aos apelos da classe política do RN à época, que temia a minha presença no Congresso. Em poucos meses, apresentei o projeto do crédito educativo (após a minha cassação, o governo apropriou-se indebitamente do projeto), relatei uma CPI, tudo divulgado pela imprensa nacional. Fui incluído entre os 100 cabeças do Congresso.
Dito isso, considero extrema injustiça o que está sendo imposto ao presidente Jair Bolsonaro, baseado em delações, consideradas mentirosas e com contradições citadas pela própria PGR. No direito penal, a condenação decorre de ato praticado pelo réu e não hipóteses. No caso em debate, a decisão se baseia em posts e sem detalhar riscos de fuga. A conclusão diante dos fatos é que existe inegável perseguição política contra o ex-presidente Bolsonaro e aliados. O que se espera é Justiça, enquanto há tempo de conter um maior acirramento político, não desejado por quem defende a Paz social.
+ Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente da CCJ da Câmara Federal – ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – nl@neylopes.com.br – blogdoneylopes.com.br
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