
Porto Velho, RO - O presidente Lula chegou a Nova York com uma imagem desgastada perante a comunidade internacional. A aura de “operário que chegou à Presidência” já se foi há muitos anos, e o petista conseguiu a proeza de substituí-la por uma postura de alinhamento quase incondicional a boa parte do que há de pior hoje no mundo, como a teocracia iraniana e o imperialismo expansionista russo. O discurso do presidente brasileiro tradicionalmente abre a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, e foi sob esse olhar desconfiado de muitos outros líderes que Lula preferiu se refugiar no vitimismo fácil, em temas mais ou menos consensuais, e evitando “cascas de banana” que já lhe renderam problemas no passado – como, por exemplo, a defesa da substituição do dólar como a moeda de referência no comércio mundial.
Ciente de que os Estados Unidos também não estão em uma posição de muito prestígio, graças à maneira como o “tarifaço” de Donald Trump desorganizou o comércio internacional, Lula partiu para um ataque cauteloso, falando em “medidas unilaterais [que] transformam em letra morta princípios basilares como a cláusula de Nação Mais Favorecida, desorganizam cadeias de valor e lançam a economia mundial em uma espiral perniciosa de preços altos e estagnação”. E, sem citar nominalmente as sanções norte-americanas contra ministros do Supremo Tribunal Federal e outras autoridades, Lula reclamou que “sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando a regra”, acrescentando que “não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia” e que “a agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável”, criticando uma “ingerência em assuntos internos” que o próprio Lula não hesita em praticar, como quando resgatou uma ex-primeira-dama peruana condenada por corrupção, deturpando o instituto do asilo político.
Lula não disse nada que contribua significativamente para recuperar a posição de prestígio internacional que o país já teve um dia
Lula ainda se regozijou com a condenação de seu antecessor, Jair Bolsonaro. “Há poucos dias, e pela primeira vez em 525 anos de nossa história, um ex-chefe de Estado foi condenado por atentar contra o Estado Democrático de Direito”, disse o primeiro ex-chefe de Estado brasileiro em 525 anos de história a ir para a prisão por corrupção (prisão da qual só saiu, tendo anuladas suas condenações, graças a mudanças de jurisprudência e decisões teratológicas da suprema corte). O petista ainda acrescentou que Bolsonaro “foi investigado, indiciado, julgado e responsabilizado pelos seus atos em um processo minucioso” e “teve amplo direito de defesa” – considerando que mesmo dentro do Brasil inúmeros formadores de opinião continuam até hoje ignorando todos os absurdos cometidos ao longo deste processo, como a violação do princípio do juiz natural e a impossibilidade de se punir crimes que não passaram da etapa de preparação, Lula sabia que suas afirmações não seriam questionadas por estrangeiros sem familiaridade com as leis penais e processuais brasileiras.
O que certamente não passou despercebido pela comunidade internacional reunida em Nova York, no entanto, foram os acenos às ditaduras amigas, como as de Cuba e Venezuela – onde “a via do diálogo não deve estar fechada”, segundo Lula, por mais que seja o ditador Nicolás Maduro quem rejeite qualquer entendimento com as forças democráticas e o legítimo presidente eleito, Edmundo González, hoje exilado na Espanha. Lula ainda defendeu a proposta sino-brasileira para o fim da guerra na Ucrânia, um plano que praticamente atende a todas as reivindicações do ditador russo Vladimir Putin, outro aliado do petista – e, com isso, hipocritamente valida o uso da força nas relações internacionais enquanto denuncia, em seu discurso, a “desordem internacional marcada por seguidas concessões à política do poder”.
De resto, o que se viu foram obviedades, como as críticas a Israel, que também está na defensiva após quase dois anos de campanha militar contra o Hamas na Faixa de Gaza; a tentativa de “levantar” uma COP-30 que corre o risco de se tornar um fracasso global devido a inúmeros problemas de organização; e o pedido por uma reorganização do Conselho de Segurança da ONU, com a eterna ambição lulista por um assento permanente para o Brasil. Nada que contribua significativamente para recuperar a posição que o país já teve um dia, de força regional respeitada globalmente por ter diplomatas capazes de abordar os grandes temas internacionais com neutralidade e objetividade, sem os alinhamentos ideológicos daninhos impostos por Lula e seu chanceler de facto, Celso Amorim.
Fonte: Por Gazeta do Povo
0 Comentários