Remédio invisível: como a respiração pode mudar sua saúde

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Remédio invisível: como a respiração pode mudar sua saúde


O jornalista científico James Nestor investiga como a humanidade “desaprendeu” a respirar corretamente e os impactos desse retrocesso na saúde. (Foto: Pixabay)

Porto Velho, RO - Inspiramos e expiramos cerca de 25 mil vezes por dia, sem pensar no assunto. Mas e se estivermos fazendo isso da maneira errada? Em “Respire: A Nova Ciência de uma Arte Perdida” (editora Intrínseca), o jornalista científico americano James Nestor investiga como a humanidade “desaprendeu” a respirar corretamente e os impactos desse retrocesso em nossa saúde.

Percorrendo catacumbas antigas, instalações soviéticas secretas, corais de Nova Jersey e ruas poluídas de São Paulo, Nestor conversa com cientistas, médicos e praticantes de técnicas respiratórias milenares para compreender o poder transformador da respiração. No trecho a seguir, extraído da introdução do livro, ele conta por que pequenas mudanças no modo de inspirar e expirar podem influenciar desde o funcionamento do sistema imunológico até a reversão de doenças crônicas.

“Existem tantas maneiras de respirar quanto alimentos para comer”, disse uma instrutora que já havia prendido a respiração por mais de oito minutos e, uma vez, mergulhou mais de 90 metros. “E cada maneira com que respiramos afetará nosso corpo de formas diferentes.”

Outro mergulhador me disse que alguns métodos de respiração nutrem o cérebro, enquanto outros matam neurônios; alguns nos tornarão saudáveis, outros apressarão nossa morte. Eles contaram histórias loucas sobre como a maneira de respirar os levou a expandir o tamanho de seus pulmões em 30% ou mais.

Falaram sobre um médico indiano que perdeu vários quilos simplesmente mudando a forma de inspirar e sobre outro homem que injetou endotoxina bacteriana E. coli e em seguida respirou em um padrão rítmico específico para estimular o sistema imunológico a destruir as toxinas em questão de minutos.

Contaram sobre mulheres que tinham câncer e entraram em remissão e monges que podiam derreter círculos na neve ao redor de seus corpos nus por um período de várias horas. Tudo parecia loucura.

Durante as minhas horas de folga das pesquisas subaquáticas, tarde da noite, eu lia vários textos sobre o assunto. Será que alguém havia estudado os efeitos da respiração consciente em quem não tinha o hábito de mergulhar? Alguém corroborou as fantásticas histórias dos praticantes de mergulho livre sobre o uso da respiração para a perda de peso, saúde e longevidade?

Encontrei material suficiente para montar uma biblioteca. O problema era que as fontes tinham centenas, às vezes milhares de anos. Sete livros do Tao chinês, datados de cerca de 400 a.C., focavam na respiração, em como poderia nos matar ou nos curar, dependendo do uso que fazemos dela. Esses manuscritos incluíam instruções detalhadas sobre como regular a respiração, desacelerá-la, retê-la e engoli-la.

Ainda antes, os hindus consideravam a respiração e o espírito a mesma coisa. Eles descreviam práticas elaboradas com a finalidade de equilibrar a respiração e preservar a saúde física e mental. Os budistas usavam a respiração não apenas para prolongar a vida, mas também alcançar planos mais elevados de consciência.

Para todas essas pessoas, para todas essas culturas, a respiração era um remédio poderoso. “Portanto, o estudioso que nutre sua vida refina a forma e nutre a respiração”, diz um texto antigo do Tao. “Isso não é evidente?” Não muito.

Puxar o ar e deixar o corpo fazer o resto

Procurei algum tipo de confirmação dessas afirmações em pesquisas mais recentes em pneumologia, a disciplina médica que lida com os pulmões e o trato respiratório, mas não encontrei quase nada. De acordo com o que descobri, a técnica de respiração não era importante.

Muitos médicos, pesquisadores e cientistas que entrevistei confirmaram esse posicionamento. Vinte vezes por minuto ou dez vezes, pela boca, pelo nariz ou por meio de um tubo de respiração, é tudo a mesma coisa. A questão é puxar o ar e deixar o corpo fazer o resto.

Para ter uma ideia de como a respiração é vista pelos profissionais médicos modernos, lembre-se de seu último check-up. Seu médico deve ter aferido sua pressão arterial, seu pulso e sua temperatura e encostado um estetoscópio em seu peito para avaliar a saúde do coração e dos pulmões.

Talvez ele tenha falado sobre dieta, vitaminas, estresse no trabalho. Algum problema para digerir os alimentos? E o sono? As alergias sazonais estavam piorando? Asma? E dores de cabeça?

Mas ele provavelmente nunca verificou sua frequência respiratória. Nunca analisou o equilíbrio de oxigênio e dióxido de carbono na corrente sanguínea. Como você respira e a qualidade de cada respiração não fizeram parte da consulta.

Mesmo assim, se acreditarmos nos praticantes de mergulho livre e nos textos antigos, o modo como respiramos afeta tudo. Como poderia ser tão importante e sem importância ao mesmo tempo? Continuei pesquisando e, lentamente, uma história começou a se desenrolar.

"Estamos lidando com emergências"

Descobri que eu não era a única pessoa que havia começado a fazer essas perguntas. Enquanto folheava textos e entrevistava mergulhadores, cientistas de Harvard, Stanford e outras instituições de renome estavam confirmando algumas das histórias mais loucas que eu tinha ouvido.

Mas o trabalho deles não estava acontecendo nos laboratórios de pneumologia. Aprendi que os pneumologistas cuidam principalmente de doenças específicas dos pulmões — insuficiência, câncer, enfisema. “Estamos lidando com emergências”, disse-me um pneumologista veterano. “É assim que o sistema funciona.”

Não, essa pesquisa respiratória vem ocorrendo em outros lugares: nas escavações lamacentas dos cemitérios antigos, nas poltronas dos consultórios odontológicos e nas salas acolchoadas dos hospitais psiquiátricos. Não são lugares onde você esperaria encontrar pesquisas de ponta sobre uma função biológica.

Poucos desses cientistas se dedicaram a estudar a respiração. Mas, de alguma forma, a respiração não parava de chamar a atenção deles.

Descobriram que a nossa capacidade de respirar mudou ao longo dos processos da evolução humana, e que a maneira como respiramos piorou notavelmente desde o início da era industrial. Esses cientistas descobriram que 90% de nós — muito provavelmente eu, você e quase todo mundo que conhecemos — estão respirando da maneira errada, e que essa falha está causando ou agravando uma lista de doenças crônicas.

De modo mais animador, alguns desses pesquisadores também demonstraram que muitas doenças modernas — asma, ansiedade, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, psoríase e outras — poderiam ser reduzidas ou revertidas apenas com a mudança da maneira como inspiramos e expiramos. Esse trabalho estava derrubando crenças arraigadas na ciência médica ocidental.

Sim, respirar em diferentes padrões realmente pode influenciar o peso corporal e a saúde. Sim, como respiramos afeta o tamanho e a função dos nossos pulmões. Sim, a respiração nos permite acessar nosso sistema nervoso, controlar nossa resposta imune e restaurar nossa saúde. Sim, mudar a maneira como respiramos nos ajudará a viver mais.

Não importa o que comemos, quanto nos exercitamos, quanto nossos genes são resistentes, quanto somos magros, jovens ou sábios — nada disso importa a menos que respiremos corretamente. Foi isso o que os pesquisadores descobriram. O pilar que falta na saúde é a respiração. Tudo começa nela.

Fonte: Por James Nestor

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