
Ovos continuaram subindo em março, segundo o IBGE. (Foto: Erika Varga/Pixabay)
Porto Velho, RO - Depois das inflações “anormais” de janeiro e fevereiro, puxadas para baixo e para cima, respectivamente, pela aplicação e pela retirada do “bônus de Itaipu”, que barateou as contas de energia elétrica, o IPCA de março voltou à triste normalidade do governo Lula. A alta de 0,56% em março veio exatamente em linha com as expectativas do mercado financeiro, mas não deixa de preocupar, pois representa mais de três vezes a inflação de março de 2024 (0,16%) e deixa o acumulado de 12 meses em 5,48%, quase um ponto porcentual inteiro acima do limite máximo de tolerância da meta para o ano, que é de 3%, podendo oscilar 1,5 ponto para mais ou para menos.
A energia elétrica, que havia sido o grande protagonista do IPCA dos dois primeiros meses do ano, acomodou-se em março, com uma alta de apenas 0,12%. Quem voltou a ganhar espaço foram os “suspeitos de sempre”, como os alimentos, que subiram 1,17% – a alimentação no domicílio teve alta de 1,31%, enquanto as refeições fora de casa avançaram 0,77%. Em alguns casos, houve razões de ordem climática, segundo o IBGE: a lavoura de café foi prejudicada pela falta de chuvas, e o calor apressou o amadurecimento do tomate. A alta do milho, que serve de ração para as galinhas, pesou no preço do ovo, que continua sua disparada, subindo emblemáticos 13,13% em março – como Lula disse andar procurando o “pilantra que aumentou o ovo”, o IBGE achou milhões deles: os católicos, que teriam trocado a carne pelo ovo no período penitencial da Quaresma, elevando a demanda.
O governo federal não tem como se eximir de responsabilidade sobre a escalada do IPCA, especialmente quando se olha a série histórica deste terceiro mandato Lula
Fora do setor de alimentos e bebidas, a inflação de serviços – uma das que mais preocupam o Banco Central, quando faz suas análises para decidir que rumo dar aos juros – segue acima do índice cheio, subindo 0,62% em março e acumulando 5,88% nos últimos 12 meses. Só as passagens aéreas, um item bastante específico, muito volátil e com peso nada desprezível na conta total, tiveram alta de 6,91%. De positivo (ou menos negativo), pode-se ao menos constatar que o índice de difusão do IPCA em março ficou em 61%, indicando que a alta de preços está menos generalizada que no fim de 2024 e início de 2025.
A inflação de abril deve sofrer ao menos alguma influência das variações drásticas do câmbio, devido aos desdobramentos do “tarifaço” de Donald Trump – só nos últimos dias, a cotação da moeda norte-americana já subiu e caiu algumas dezenas de centavos de real, à medida que os Estados Unidos impunham ou retiravam tarifas sobre importações de produtos e serviços estrangeiros para os EUA. Mas nem isso pode servir de desculpa para o governo federal se eximir de responsabilidade sobre a escalada do IPCA, especialmente quando se olha a série histórica deste terceiro mandato Lula.
O acumulado de 12 meses, que chegou a 5,19% em setembro de 2023, começou uma trajetória de queda que durou até abril de 2024, quando então iniciou uma série de altas que nos trouxe até o momento atual. Esses dois marcos correspondem, respectivamente, à aprovação do arcabouço fiscal (que, mesmo bastante pífio, ainda era uma sinalização mínima a respeito de metas fiscais) e à sua desmoralização, com o afrouxamento dos objetivos estabelecidos menos de um ano antes. Não é coincidência, pois a gastança em si já é inflacionária, e a irresponsabilidade governamental serve para a famosa “desancoragem das expectativas”, indicando que se espera ainda mais inflação, o que por sua vez força o Banco Central a apertar a política monetária. A Quaresma acabará em breve, mas o sacrifício do brasileiro ainda deve continuar por muito mais tempo.
Fonte: Por Gazeta do Povo
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