
Ministros do STF durante evento de combate à "desinformação", em 2022. (Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF)
Porto Velho, RO - É difícil negar que as liberdades individuais estão em retrocesso no Brasil — graças, sobretudo, ao Supremo Tribunal Federal. Nos últimos anos, a corte instituiu censura nas redes sociais, penas elevadas para pessoas que cometeram crimes leves e a imposição de uma doutrina ideológica que não admite questionamentos.
Um livro de um escritor americano sugere um termo que pode ser usado para definir a atuação STF: totalitarismo suave.
Em sua penúltima obra, o escritor americano Rod Dreher entrevistou dissidentes de regimes comunistas autoritários para extrair lições aplicáveis no cenário atual.
Ele afirma que, para muitas pessoas, a ameaça de totalitarismo “duro” ficou para trás com a derrocada do nazismo, do fascismo e da União Soviética. Faz sentido. É pouco provável que algum país ocidental seja ocupado militarmente por um regime nos moldes do de Joseph Stálin. Mas isso não significa que não exista outra ameaça a ser levada em conta: a do que ele chama de totalitarismo suave.
A reflexão faz parte de "Não Viva uma Mentira: um Manual Para Dissidentes Cristãos", livro cuja edição brasileira foi lançada em 2023.
Nova forma de totalitarismo
Dreher é mais conhecido como o autor de "A Opção Beneditina", uma obra que defende que os cristãos devem se inspirar em São Benedito para formar comunidades nas quais os seus valores possam florescer.
Em “Não Viva uma Mentira”, Dreher explica que o totalitarismo mudou de forma, mas nunca desapareceu. "Este totalitarismo não se parecerá com o da URSS. Ele não está se estabelecendo por meios 'duros' como revolução armada, nem se impondo através de gulags”, ele afirma.
Embora haja muitas semelhanças entre o novo e o velho totalitarismo, Dreher diz que dois fatores separam a nova forma de tirania: o conjunto de valores, hoje mais alinhado à agenda "woke", e a velocidade com que os dissidentes são identificados e punidos.
"Hoje em nossas sociedades, os dissidentes da linha partidária woke veem seus negócios, carreiras e reputações destruídos. Eles são expulsos da esfera pública, estigmatizados, cancelados e demonizados como racistas, sexistas, homofóbicos e afins. E eles têm medo de resistir, porque estão convencidos de que ninguém se juntará a eles ou os defenderá", o autor escreve.
Dreher também afirma que o novo modelo de totalitarismo envolve a vigilância digital — uma ferramenta que não estava disponível para os tiranos do século 20.
"O totalitarismo suave, como veremos em um capítulo posterior, faz uso de tecnologia avançada de vigilância não (ainda) imposta pelo Estado, mas sim bem recebida pelos consumidores como auxiliares na conveniência do estilo de vida—e no ambiente pós-pandemia, provavelmente necessária para a saúde pública".
O autor afirma ainda que, nessa nova modalidade de totalitarismo, o Estado arroga para si o papel de definir o que é verdadeiro e o que é falso.
O objetivo de Dreher com o livro é mais amplo do que apenas contar fatos históricos: é trazer lições que podem ser aplicadas aos novos tempos — tempos de uma totalitarismo suave, nas palavras de Dreher.
O que precede o totalitarismo
Na obra, Rod Dreher identifica elementos que facilitam a ascensão do totalitarismo (tanto o antigo quanto o novo): a atomização social, descrédito nas hierarquias e instituições, e um processo de "radicalismo" das elites.
Segundo ele, a visão dos defensores do totalitarismo suave se baseia na ideia de que a sociedade está se movendo em uma determinada direção, e que tudo pode ser medido em termos de avanços e retrocessos. Discordar dessa noção radical de igualdade (de fins, e não de oportunidades) é ser tratado como um herético.
É o que ele chama de o "Mito do Progresso" — uma ideia com contornos de doutrina religiosa, e que permite o cancelamento de figuras públicas que questionam os dogmas do momento.
"A atomização social, a solidão generalizada, o avanço da ideologia, a perda generalizada de fé nas instituições e outros fatores deixam a sociedade vulnerável à tentação totalitária à qual tanto a Rússia quanto a Alemanha sucumbiram no século anterior", afirma Dreher.
Família e comunidades contra a tirania
No livro, Rod Dreher conta histórias de dissidentes de regimes comunistas, e adapta as lições deles para os tempos de hoje.
Um ponto fundamental, diz ele, é o cultivo de grupos sociais que não estejam sob a tutela do Estado. A família e grupos religiosos são partes essenciais dessa resistência porque evitam a atomização dos indivíduos. “Precisamos desesperadamente nos livrar das correntes da solidão e encontrar a liberdade que nos aguarda na comunhão. O testemunho dos dissidentes anticomunistas é claro: somente na solidariedade com os outros podemos encontrar a força espiritual e comunitária para resistir”, diz ele.
O final da história nem sempre é feliz. Dreher não dá uma receita para derrubar o sistema tirânico, mas mostra como é possível viver sob o totalitarismo sem abdicar dos seus princípios.
Ele também afirma que é preciso agir com coragem. Ser conivente com as mentiras do regime significa apoiar o totalitarismo suave: "Os mais profundamente enganados são aqueles que convencem a si mesmos de que podem viver honestamente dentro de sistemas woke, conformando-se externamente e aprendendo a adaptar suas convicções à nova ordem", ele afirma.
Fonte: Por Gabriel de Arruda Castro
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