
(Foto: Leonardo Coutinho com Chat GPT)
Porto Velho, RO - Cérbero, a criatura mitológica representada por um cão de três cabeças, é o guardião dos portões do inferno. Na nova ordem mundial, Cérbero tem muito mais de três cabeças e um adestrador. O nome dele é Xi Jinping. O uso da alegoria não é para ofender ninguém.
A figura de Cérbero é a melhor forma de mostrar como o líder chinês tem comandado líderes do tal Sul Global para atuar sob o seu comando contra um inimigo comum: a democracia.
Cada um dos ditadores ou presidentes que se alinhou ao projeto geopolítico da China é, de certa forma, uma das cabeças da criatura. Nicolás Maduro (Venezuela), Miguel Díaz-Canel (Cuba), Vladimir Putin (Rússia), Ali Khamenei (Irã) e, mais recentemente, Luiz Inácio Lula da Silva.
Além da aversão à democracia, o que há em comum entre os membros desse eixo autocrático é o antiamericanismo visceral. Essa, na realidade, é a isca que atrai vários outros para a esfera da China.
O caso do Brasil ilustra isso com perfeição. Sob Lula, o país passou de ator hesitante a participante ativo de uma frente informal, mas decididamente antagônica à ordem liderada pelos Estados Unidos e sustentada por valores ocidentais.
A visita de Estado de Lula à China nesta semana não foi apenas mais uma missão diplomática. Foi a consagração de uma aliança política. Foram mais de 20 acordos assinados, a promessa de 27 bilhões em investimentos e uma série de declarações conjuntas que escancararam a sintonia ideológica entre os dois países. Lula declarou que a relação com a China. Lula chegou a assumir que importará know-how chinês para o controle das redes sociais no Brasil.
Não se trata mais apenas de soja, minério de ferro ou swap cambial. Já é um alistamento. A retórica contra “a supremacia de uma só moeda”, no caso o dólar, e contra a “hegemonia de um único país”, no caso os Estados Unidos.
Se no passado o Brasil oscilava entre um discurso de não alinhamento e a prática de buscar equilíbrio entre Washington e Pequim, agora há clareza sobre sua inclinação.
A retórica de Lula, acompanhada da postura diplomática e dos acordos firmados, o colocou ao lado do bloco autoritário comandado por Xi
Lula escolheu caminhar de mãos dadas com figuras que personificam a nova onda autocrática global. Vladimir Putin, isolado no Ocidente, encontrou em Pequim e Brasília respaldo diplomático e, mais importante, moral.
Nicolás Maduro, cuja ditadura já destruiu a democracia venezuelana, é tratado por Lula com deferência fraternal. Díaz-Canel, boneco de ventríloquo dos Castros, é recebido como parceiro confiável. A teocracia do Irã é anulada e legitimada no clube dos vilões em que se transformou os Brics.
Nanicos como Gustavo Petro, Daniel Ortega se juntam como parte dessa suposta frente progressista que não passa de uma aliança que converge em direção aos interesses chineses a um ambiente de opacidade democrática e legal.
Essa convergência não é casual. Todos esses líderes compartilham, ainda que com diferenças de estilo e discurso, uma visão crítica — quando não hostil — à ordem liberal internacional, às democracias representativas e à economia de mercado baseada em regras. Xi Jinping, estrategista silencioso e paciente, atua como maestro desse novo concerto de potências liberais.
Lula insiste que sua política externa é “multilateral” e “não alinhada”. Mas os fatos desmentem a narrativa. A Declaração Conjunta entre Brasil e China sobre a guerra na Ucrânia, por exemplo, adotou o vocabulário russo: “preocupações legítimas de segurança” e “diálogo” foram as palavras-chave, em detrimento da condenação à invasão de um país soberano.
A proposta Brasil-China para um cessar-fogo — rapidamente rejeitada por Zelensky — soou, para muitos analistas internacionais, como uma tentativa de congelar o conflito nas condições favoráveis a Putin.
A retórica de Lula sobre “convencer Putin a negociar” caiu no vazio: seu governo jamais aplicou sanções, jamais criticou diretamente a agressão russa e, na prática, vem trabalhando para legitimar Moscou como ator diplomático no Sul Global.
O mesmo se aplica ao Irã. O silêncio do governo brasileiro diante da brutal repressão às mulheres iranianas, das execuções públicas e das ações desestabilizadoras em toda a região do Oriente Médio é ensurdecedor. O Irã, parceiro privilegiado da China, é agora também tratado com deferência pelo Itamaraty.
Lula não precisa romper com Washington para se alinhar com Pequim. Sua estratégia é mais sutil: ele simula neutralidade enquanto atua, de fato, como parte do eixo formado por China, Rússia e seus satélites. Essa ambiguidade é útil para manter as pontes comerciais com o Ocidente enquanto contribui para corroer suas bases normativas.
É uma lógica similar à da “não adesão” formal à Nova Rota da Seda, mas com total participação em seus desdobramentos. O Brasil se tornou receptor preferencial de investimentos chineses em infraestrutura crítica, de cooperação tecnológica em setores estratégicos e até de parcerias educacionais e midiáticas — tudo sob a promessa de uma “nova ordem multipolar”.
Multipolar, sim. Mas a serviço de que valores? O multilateralismo de Lula parece mais preocupado em questionar a liderança americana do que em defender democracia, liberdade de imprensa ou direitos humanos.
Embora Lula use um discurso de suposta independência e altivez, ele se voluntariou a estar preso à coleira do novo cão de guarda da ordem global autoritária
Xi Jinping não precisa enviar tanques nem impor tratados — sua influência se materializa em investimentos, diplomacia paciente e uma narrativa sedutora de “respeito ao Sul Global”.
Lula adora se apresentar como uma espécie de mediador universal, mas ele tem lado. O pior lado. O Brasil, outrora farol democrático da América Latina, agora caminha sob as sombras do dragão chinês, do urso russo e dos fantasmas do autoritarismo. Pelas mãos de Lula, viramos guardiões dos portões do inferno.
Fonte: Por Leonardo Coutinho
Cada um dos ditadores ou presidentes que se alinhou ao projeto geopolítico da China é, de certa forma, uma das cabeças da criatura. Nicolás Maduro (Venezuela), Miguel Díaz-Canel (Cuba), Vladimir Putin (Rússia), Ali Khamenei (Irã) e, mais recentemente, Luiz Inácio Lula da Silva.
Além da aversão à democracia, o que há em comum entre os membros desse eixo autocrático é o antiamericanismo visceral. Essa, na realidade, é a isca que atrai vários outros para a esfera da China.
O caso do Brasil ilustra isso com perfeição. Sob Lula, o país passou de ator hesitante a participante ativo de uma frente informal, mas decididamente antagônica à ordem liderada pelos Estados Unidos e sustentada por valores ocidentais.
A visita de Estado de Lula à China nesta semana não foi apenas mais uma missão diplomática. Foi a consagração de uma aliança política. Foram mais de 20 acordos assinados, a promessa de 27 bilhões em investimentos e uma série de declarações conjuntas que escancararam a sintonia ideológica entre os dois países. Lula declarou que a relação com a China. Lula chegou a assumir que importará know-how chinês para o controle das redes sociais no Brasil.
Não se trata mais apenas de soja, minério de ferro ou swap cambial. Já é um alistamento. A retórica contra “a supremacia de uma só moeda”, no caso o dólar, e contra a “hegemonia de um único país”, no caso os Estados Unidos.
Se no passado o Brasil oscilava entre um discurso de não alinhamento e a prática de buscar equilíbrio entre Washington e Pequim, agora há clareza sobre sua inclinação.
A retórica de Lula, acompanhada da postura diplomática e dos acordos firmados, o colocou ao lado do bloco autoritário comandado por Xi
Lula escolheu caminhar de mãos dadas com figuras que personificam a nova onda autocrática global. Vladimir Putin, isolado no Ocidente, encontrou em Pequim e Brasília respaldo diplomático e, mais importante, moral.
Nicolás Maduro, cuja ditadura já destruiu a democracia venezuelana, é tratado por Lula com deferência fraternal. Díaz-Canel, boneco de ventríloquo dos Castros, é recebido como parceiro confiável. A teocracia do Irã é anulada e legitimada no clube dos vilões em que se transformou os Brics.
Nanicos como Gustavo Petro, Daniel Ortega se juntam como parte dessa suposta frente progressista que não passa de uma aliança que converge em direção aos interesses chineses a um ambiente de opacidade democrática e legal.
Essa convergência não é casual. Todos esses líderes compartilham, ainda que com diferenças de estilo e discurso, uma visão crítica — quando não hostil — à ordem liberal internacional, às democracias representativas e à economia de mercado baseada em regras. Xi Jinping, estrategista silencioso e paciente, atua como maestro desse novo concerto de potências liberais.
Lula insiste que sua política externa é “multilateral” e “não alinhada”. Mas os fatos desmentem a narrativa. A Declaração Conjunta entre Brasil e China sobre a guerra na Ucrânia, por exemplo, adotou o vocabulário russo: “preocupações legítimas de segurança” e “diálogo” foram as palavras-chave, em detrimento da condenação à invasão de um país soberano.
A proposta Brasil-China para um cessar-fogo — rapidamente rejeitada por Zelensky — soou, para muitos analistas internacionais, como uma tentativa de congelar o conflito nas condições favoráveis a Putin.
A retórica de Lula sobre “convencer Putin a negociar” caiu no vazio: seu governo jamais aplicou sanções, jamais criticou diretamente a agressão russa e, na prática, vem trabalhando para legitimar Moscou como ator diplomático no Sul Global.
O mesmo se aplica ao Irã. O silêncio do governo brasileiro diante da brutal repressão às mulheres iranianas, das execuções públicas e das ações desestabilizadoras em toda a região do Oriente Médio é ensurdecedor. O Irã, parceiro privilegiado da China, é agora também tratado com deferência pelo Itamaraty.
Lula não precisa romper com Washington para se alinhar com Pequim. Sua estratégia é mais sutil: ele simula neutralidade enquanto atua, de fato, como parte do eixo formado por China, Rússia e seus satélites. Essa ambiguidade é útil para manter as pontes comerciais com o Ocidente enquanto contribui para corroer suas bases normativas.
É uma lógica similar à da “não adesão” formal à Nova Rota da Seda, mas com total participação em seus desdobramentos. O Brasil se tornou receptor preferencial de investimentos chineses em infraestrutura crítica, de cooperação tecnológica em setores estratégicos e até de parcerias educacionais e midiáticas — tudo sob a promessa de uma “nova ordem multipolar”.
Multipolar, sim. Mas a serviço de que valores? O multilateralismo de Lula parece mais preocupado em questionar a liderança americana do que em defender democracia, liberdade de imprensa ou direitos humanos.
Embora Lula use um discurso de suposta independência e altivez, ele se voluntariou a estar preso à coleira do novo cão de guarda da ordem global autoritária
Xi Jinping não precisa enviar tanques nem impor tratados — sua influência se materializa em investimentos, diplomacia paciente e uma narrativa sedutora de “respeito ao Sul Global”.
Lula adora se apresentar como uma espécie de mediador universal, mas ele tem lado. O pior lado. O Brasil, outrora farol democrático da América Latina, agora caminha sob as sombras do dragão chinês, do urso russo e dos fantasmas do autoritarismo. Pelas mãos de Lula, viramos guardiões dos portões do inferno.
Fonte: Por Leonardo Coutinho
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