
Ney Lopes
Com dezenas de caças, armas a laser e mísseis balísticos nucleares, o presidente Xi Jinping da China presidiu recentemente uma poderosa demonstração do poderio militar chinês. Ladeado pelos líderes da Rússia, Irã e Coreia do Norte, Xi Jinping sinalizou ao mundo que existe uma alternativa viável à liderança dos EUA. A China visa o alinhamento com esses outros Estados, o que lhe permitirá subverter a ordem internacional vigente e resistir ao principal líder do sistema atual, os Estados Unidos.
Esta exibição marcou o 80o aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial. Mostrou para onde a China está indo: Xi desempenha o papel de um líder global preparado para liderar o mundo. Todos os líderes ocidentais optaram por não comparecer ao desfile. Dos 24 líderes estrangeiros presentes, 17 comandam seus países de maneira autocrática. Outros 6 são de regimes ditatoriais. O Brasil foi representado pelo diplomata Celso Amorim.
Viu-se um espetáculo coreografado de precisão, poder e patriotismo. Uma das principais conclusões do desfile é que a China foi capaz de produzir rapidamente uma gama diversificada de armas. Dez anos atrás, o tipo de tecnologia militar que eles colocaram em exibição tendia a ser “cópias rudimentares”, com tecnologia superada. Um ponto apenas, a China está atrás. A Marinha dos Estados Unidos é incomparável no mundo, com a maior frota de porta-aviões e grupos de ataque de porta-aviões.
Inegavelmente o desfile projetou o poder de Pequim no cenário internacional – não apenas como a segunda maior economia do mundo, mas também como um contrapeso nas relações internacionais, na hora em que as tarifas de Trump abalam a ordem econômica e política global. Em nenhum lugar o impacto foi mais evidente do que na Ucrânia, onde China, Irã e Coreia do Norte permitiram ao Kremlin sustentar sua guerra e resistir melhor à pressão internacional
Um fato chama a atenção é a rapidez com que a China está preenchendo o vácuo deixado pela retirada dos Estados Unidos das normas e instituições internacionais. O maior exemplo é a forma como as duras tarifas dos Estados Unidos empurraram a índia, a maior democracia do mundo, tão rapidamente para o caloroso abraço da China, a maior autocracia do mundo.
“Pravda”, o órgão oficial do Partido Comunista declarou, em referência à Rússia, China e índia: “Vamos construir um novo mundo”. Portanto, não é segredo o risco que corre a dominação global americana.
* Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente da CCJ da Câmara Federal – ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – nl@neylopes.com.br – blogdoneylopes.com.br
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