
Porto Velho, RO - A reação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT e de sua tropa de choque à Operação Carbono Oculto – que expôs as teias do PCC (Primeiro Comando da Capital) na economia formal do país, com a colaboração de empresas de serviços financeiros digitais, as chamadas fintechs – revela muito sobre o jeito sinistro de eles fazerem política, para levar adiante o seu projeto hegemônico de poder.
A resposta do governo Lula e de seus aliados teve todos os ingredientes das armações que costumam ser forjadas na usina de narrativas do PT e do Palácio do Planalto, propagadas por aí com o respaldo de boa parte da autodenominada “imprensa profissional” e dos “influenciadores” ligados ao presidente e ao partido.
Teve fake news “do bem”, que são aquelas produzidas pela esquerda para “demonizar” adversários políticos, sem que os seus autores corram o risco de se tornar alvo de inquéritos sem fim no STF (Supremo Tribunal Federal) e de questionamentos das tais “agências de checagem”.
Teve também oportunismo “do mal”, pelo qual o governo e o PT distorcem os acontecimentos “na miguelagem”, para obter dividendos políticos sem fazer jus a eles e impulsionar, por vias transversas, a agenda oficial, de regulação das redes, aumento de impostos e gastança sem lastro. E teve até proposta de criação de uma investigação paralela sobre o caso no Congresso, para tentar tirar o foco da opinião pública da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do INSS, que ficou sob controle da oposição e promete ser um flanco de problemas sérios para o governo nos próximos meses.
Sem qualquer indício ou prova, Lula procurou associar o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ao PCC, por ele ter gravado um vídeo que viralizou nas redes e contribuiu de forma decisiva para o recuo da tentativa velada do governo de monitorar as operações do Pix de valores superiores a R$ 5 mil, com finalidades tributárias, no início do ano. Segundo o presidente e sua claque, isso teria sido uma fake news que acabou por enfraquecer a fiscalização das fintechs usadas pelas organizações criminosas para “lavar” bilhões de reais obtidos de forma ilícita.
“Tem um deputado que fez uma campanha contra as mudanças que a Receita Federal propôs e agora está provado que o que ele estava fazendo era defender o crime organizado”, afirmou o presidente em entrevista à rádio Itatiaia, sem mencionar o nome do parlamentar, num sinal evidente de que até hoje o governo não digeriu o revés sofrido com sua proposta de monitoramento do Pix.
Independentemente do que se pense sobre Nikolas, dizer que o PCC só conseguiu movimentar bilhões por meio de fintechs porque o vídeo do deputado impediu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de fuçar a movimentação de recursos da manicure e do entregador de aplicativo pelo Pix é, antes de mais nada, uma tremenda leviandade.
Primeiro, porque o vídeo de Nikolas foi divulgado em janeiro de 2025, enquanto as movimentações financeiras do crime organizado que foram alvo da Operação Carbono Oculto ocorreram entre 2020 e 2024. Depois, porque a própria investigação da trama mostra que foi possível desvendá-la mesmo sem o monitoramento das transações do Pix que o governo Lula queria implementar.
Além disso, a classificação da informação de que a medida tinha objetivos tributários como fake news não bate com a realidade. Apesar de o governo negar, uma portaria da Receita Federal tratando do assunto, que foi obtida pelo portal O Fator, não fazia qualquer menção à lavagem de dinheiro. E, na exposição de motivos assinada por auditores do órgão, confirmava que, de fato, o seu objetivo era aumentar a arrecadação e identificar possíveis sonegadores, por meio do rastreamento de operações financeiras de pequeno porte de milhões de brasileiros.
Como mostra um levantamento do Banco Central, metade das transações do Pix em dezembro de 2024 foi de valor abaixo de R$ 39 e 99% das operações não superava R$ 3.731. Isso indica, como disse um internauta, que os recursos movimentados pelo Pix não são fortunas, mas pagamentos de compras na feira, lanches na padaria, gás e gasolina – despesas que têm pouca ou nenhuma relação com a movimentação de bilhões pelo PCC por meio de fintechs.
Outra coisa: o súbito interesse de Lula e de seus apoiadores pelo combate ao crime organizado está longe, muito longe, de ser uma bandeira do PT e de seus satélites. Ao contrário. Ainda outro dia, Lula se negou a atender a uma demanda do governo Trump para classificar o PCC e outros grupos criminosos, como o CV (Comando Vermelho), como organizações terroristas.
Em 2018, no governo Temer, o PT chegou até entrar com um mandado de segurança no STF para tentar derrubar um decreto presidencial contra o crime organizado, comparando a repressão a organizações como o PCC e o CV à que foi empreendida contra os grupos de esquerda pelo regime militar.
“O decreto revive tempos sombrios (em plena quadra democrática), quando a propósito também de combater criminosos, crime organizado, terroristas, comunistas ou quaisquer rótulos ultrajantes que se utilizou (sic) indevidamente e alienadamente, permitiu-se toda sorte de perseguições a pessoas, grupos, movimentos sociais, entidades de defesa de direitos humanos etc., vulnerando até mais não poder direitos fundamentais e conquistas sociais caras à sociedade e ao povo brasileiro”, dizia o mandado impetrado pelo PT no STF.
Como qualquer armação dessa turma parece ser coordenada e organizada em tempo real, por meio de grupos de WhatsApp ou aplicativos semelhantes, a fala de Lula contra Nikolas e em defesa do monitoramento do Pix pela Receita veio acompanhada de uma série de manifestações de integrantes do governo, parlamentares de sua base de apoio e influenciadores digitais.
O secretário da Receita Federal, Robinson Barreirinhas, reforçou as afirmações de Lula, também sem citar Nikolas, afirmando que a lavagem de dinheiro pelo crime organizado através de fintechs só foi possível por causa das “fake news sobre o Pix” propagadas em janeiro.
Ao longo de seus 45 anos de história, Lula e o PT já construíram um retrospecto considerável de armações
“Essas fake news foram tão fortes que, apesar de todo o esforço da Receita Federal, ajudada pela mídia tradicional, não conseguimos reverter as mentiras”, declarou Barreirinhas, ex-chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Finanças de São Paulo na gestão de Haddad (2013-2016), responsável na época, como não poderia deixar de ser, por projetos relacionados à administração fiscal e tributária do município. “E as operações mostram quem ganhou com essas mentiras: o crime organizado. As operações mostram que, independentemente das intenções, as pessoas que espalharam aquelas fake news, aquelas mentiras, ajudaram o crime organizado.”
Ao mesmo tempo, o deputado petista Lindbergh Farias, líder do PT na Câmara, apresentou requerimento para a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), com o objetivo de “investigar as conexões entre o crime organizado, bancos digitais, fintechs e grandes setores produtivos e também a rede de desinformação que tenta confundir a população para favorecer criminosos”.
Na mesma linha, o deputado Reimont (PT-RJ), Presidente da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara, protocolou ofício na PGR pedindo a abertura de uma investigação contra Nikolas e solicitando que seja avaliada a possibilidade de prisão preventiva do parlamentar se as apurações apontarem risco à ordem pública.
Já o deputado Rogério Correia pediu à PGR abertura de inquérito criminal do STF contra Nikolas pela suposta divulgação de fake news sobre o sistema financeiro e o favorecimento indireto de organizações criminosas. A deputada Tábata Amaral (PSB-SP), darling da esquerda caviar e aliada incondicional de Lula, também não perdeu a oportunidade de tentar faturar com o caso, ao postar um vídeo em que se propõe a “explicar” como Nikolas “ajudou o PCC”.
Para completar, a fábula criada por Lula e seus aliados ganhou visibilidade nas redes sociais por obra dos influenciadores que atuam em seu favor e em defesa do governo. Proliferaram até publicações tentando ligar a direita como um todo ao PCC e ao crime organizado de forma geral.
Em referência a um post de Nikolas, em que ele dizia que vai à Justiça para responsabilizar os autores das acusações infundadas de sua ligação com o PCC, um petista empedernido, conhecido pelas fake news que propaga em escala industrial em apoio a Lula e ao PT, questionou se a fala de Lula não deveria ser enquadrada no que ele considera como “a liberdade de expressão que o bolsonarismo tanto defende”.
Nos comentários, o economista Rodrigo Constantino, também colunista da Gazeta do Povo e alvo de punições do STF por manifestar livremente as suas opiniões, dentro das regras previstas na Constituição, tratou de lhe dar a resposta: “A liberdade de expressão está justamente na possibilidade de quem se sentir ofendido processar, não na censura prévia que temos hoje...”.
Diante de tudo isso, a tentativa de associar o deputado Nicolas Ferreira ao PCC se configura como um exemplo emblemático do que Lula e o PT têm de pior – sempre levando em conta de que o fundo do poço pode ser ainda mais fundo do que se pode imaginar em determinado momento.
Ao longo de seus 45 anos de história, Lula e o PT já construíram um retrospecto considerável de armações do gênero, envolvendo até a produção de dossiês falsos contra os seus adversários em campanhas eleitorais e a elaboração de uma “lista negra” de jornalistas críticos a ele e ao partido, chamados na época de “pit bulls da mídia”.
Este “modus operandi” permite a qualquer observador independente da atuação do partido e do presidente concluir, sem medo de errar, que é assim que eles costumam agir contra os seus adversários e tentam se capitalizar politicamente. Isso faz parte do DNA de Lula e do PT e é um dos principais fatores, entre tantos outros, que explicam a rejeição máster de ambos junto a uma parcela significativa dos brasileiros e a atual polarização política do país.
Fonte: Por José Fucs
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