Gustavo Petro e Lula durante visita do presidente brasileiro à Colômbia, em agosto de 2025. (Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República)Porto Velho, RO - Há 40 anos, em novembro de 1985, o Palácio da Justiça de Bogotá ardeu em chamas. Ali, mais de 100 pessoas – entre juízes, funcionários e civis – foram massacradas por guerrilheiros comunistas do M-19. O episódio, que deveria ser lembrado como advertência histórica, adquiriu um simbolismo trágico para a América Latina, mergulhada numa espécie de samsara infernal, digna de figurar nas páginas de Gabriel García Márquez.
A América Latina é, afinal, o continente em que os criminosos se reinventam como estadistas e não apenas retornam à cena do crime, mas o fazem na condição de juízes morais e bedéis. Na terra natal do realismo mágico, o ex-integrante do M-19 Gustavo Petro hoje ocupa o Palácio Presidencial da Colômbia, demonstrando que, em solo latino-americano, o crime realmente compensa, sobretudo se praticado em nome da futura sociedade sem classes. Daí que a afirmação de Donald Trump – segundo o qual “Petro é um bandido” – não possa ser entendida como mero insulto, mas como uma constatação histórica, moral e política de uma continuidade que atravessa quatro décadas: do incêndio do palácio à expansão do narcotráfico sob o governo civil.
Por detrás das promessas abstratas de um mundo melhor, o M-19 praticava violência concreta, organizada e premeditada. Cada cartucho disparado, cada refém tomado, cada porta arrombada no Palácio da Justiça foi expressão de uma lógica que ainda hoje define a política de parte da América Latina: a simbiose entre crime organizado e ideologia, com o recurso à violência ilimitada sob pretextos pretensamente humanistas e justiceiros. A tragédia de 1985 não foi apenas um ataque ao edifício ou à Corte Suprema. Foi, ela sim (e não o nosso 8 de janeiro), um ataque à própria noção de Estado de Direito, um lembrete cruel de que, para revolucionários de origem marxista-leninista, nenhuma instituição da dita “civilização burguesa” é digna de permanência.
A Colômbia, outrora bastião na luta contra o narcotráfico, tornou-se reduto da cocaína, protegido por discursos de “progresso social” e “inclusão”
Quarenta anos depois, a história se repete de maneira insidiosa. Petro, o ex-guerrilheiro que trocou o fuzil pelo terno e o discurso radical pelo ambientalismo performático e pela agenda dos direitos humanos, exemplifica a falsa consciência dos socialistas latino-americanos. O mal se apresenta articulado, com verniz civilizatório e apoio da intelligentsia e do beautiful people, embora sua essência permaneça inalterada. O terrorista de ontem é o pretenso democrata de hoje, e o criminoso de outrora tornou-se conselheiro internacional e aliado de governos “progressistas” mundo afora.
Assim como a Colômbia, o Brasil é outro exemplo das recompensas que o crime com causa, a causa da “justiça social” e da “igualdade”, pode oferecer. O descondenado-em-chefe, cuja reeleição futura já parece ter sido prometida pelos mesmos falsos magistrados que o tiraram da cadeia para o poder em 2022, continua vendo em Petro não apenas um aliado, mas um irmão ideológico, um companheiro de destino histórico. Ambos compartilham um ethos de poder que transforma ressentimento em narrativa de virtude e, por isso mesmo, o crime em método. A amizade e a aliança entre eles têm valor simbólico e institucional, sancionando a normalização do criminoso como estadista e conferindo-lhe legitimidade internacional.
Convém lembrar que, sob a presidência de Petro, o plantio de coca atingiu 253 mil hectares – um recorde histórico. A Colômbia, outrora bastião na luta contra o narcotráfico, tornou-se reduto da cocaína, protegido por discursos de “progresso social” e “inclusão”. Frente a este panorama, a reação norte-americana – com sanções, suspensão de recursos e presença militar na costa colombiana – transforma um gesto diplomático em verdadeira profilaxia geopolítica. Afinal, um país que permite a ex-terroristas assumirem o governo não merece indulgência. Merece, ao contrário, um puxão de orelha.
Petro reagiu da maneira previsível: acusações de imperialismo, discurso antiamericano e a velha narrativa de vitimização terceiro-mundista. O repertório é o de sempre, irresistível aos tiranetes de poncho, boina e chapéu panamá: a transformação do crime em resistência anticolonial. Mas a retórica não altera hectares de coca, nem redes de tráfico, nem a aliança estratégica que mantém viva a simbiose entre o projeto socialista e o crime organizado. O M-19 e o narcotráfico nunca estiveram separados por fronteiras claras. O financiamento clandestino de ataques, a proteção de rotas ilícitas, o pacto com cartéis, tudo isso consolidou um modelo político tipicamente regional, gestado nas reuniões e encontros do Foro de São Paulo.
Hoje, da Colômbia de Petro à Venezuela de Maduro, passando pela Nicarágua de Ortega e pelo Brasil do descondenado-em-chefe, repete-se a mesma metodologia revolucionária. Nesse contexto, o Foro de São Paulo – criado por Fidel Castro e pelo marido da Janja para “salvar na América Latina o que se havia perdido no Leste Europeu” – exerceu papel central, consolidando partidos e governos de esquerda, bem como grupos criminosos de terroristas e narcotraficantes, numa rede transnacional de poder.
É preciso dar nome aos bois e chamar um bandido de bandido, sem eufemismos, sem sentimentalismo, sem concessões à retórica humanitária que mascara a continuidade do crime
O que Trump disse sobre Petro, portanto, vai muito além de retórica. Trata-se do diagnóstico preciso sobre um modelo de governança supranacional que, entre idas e vindas, já dura décadas e ainda desfruta de hegemonia institucional no continente. Quarenta anos depois, o Palácio da Justiça continua queimando – agora em silêncio, nas consciências que optaram pela conveniência em lugar da memória.
Daí a importância de uma figura disruptiva como Trump. Seu endurecimento em relação a Maduro e Petro – e também em relação ao descondenado-em-chefe, embora a Globo News tente abafar a questão com fábulas românticas sobre um idílio inexistente – serve de alerta para as sociedades e os povos da América Latina. É preciso dar nome aos bois e chamar um bandido de bandido, sem eufemismos, sem sentimentalismo, sem concessões à retórica humanitária que mascara a continuidade do crime.
Se ainda deseja preservar algum princípio de justiça, o continente do realismo mágico (na literatura como na política) precisará reaprender a arte da recusa e da memória: recusar a mentira, recusar o crime, recusar a narrativa que redime o criminoso.
Daí a importância de uma figura disruptiva como Trump. Seu endurecimento em relação a Maduro e Petro – e também em relação ao descondenado-em-chefe, embora a Globo News tente abafar a questão com fábulas românticas sobre um idílio inexistente – serve de alerta para as sociedades e os povos da América Latina. É preciso dar nome aos bois e chamar um bandido de bandido, sem eufemismos, sem sentimentalismo, sem concessões à retórica humanitária que mascara a continuidade do crime.
Se ainda deseja preservar algum princípio de justiça, o continente do realismo mágico (na literatura como na política) precisará reaprender a arte da recusa e da memória: recusar a mentira, recusar o crime, recusar a narrativa que redime o criminoso.
Fonte: Por Flávio Gordon


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