Quem é o ex-general chavista que acusou Lula de ligação com o narcotráfico

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Quem é o ex-general chavista que acusou Lula de ligação com o narcotráfico

Foto de arquivo, tirada em janeiro de 2016, do ex-general venezuelano Hugo Carvajal, antigo aliado de Hugo Chavez, agora delator do narcotráfico na América Latina (Foto: (EPA) EFE - Miguel Gutiérrez)

Porto Velho, RO - Poucos homens conheceram tão de perto o coração do chavismo quanto Hugo Armando Carvajal Barrios. General, diplomata e deputado, ele foi uma das figuras mais leais a Hugo Chávez. Agora, preso nos Estados Unidos por narcotráfico, “El Pollo” é delator, e suas revelações expõem a teia de alianças entre o socialismo latino-americano e o crime internacional.

Preso na Espanha em 2021, Carvajal declarou às autoridades que o governo venezuelano financiou ilegalmente partidos e líderes de esquerda em vários países por ao menos quinze anos, usando recursos do Estado e fundos ilícitos para difundir a “revolução bolivariana”.

Entre os beneficiados, citou Lula no Brasil, Néstor Kirchner na Argentina, Evo Morales na Bolívia, Fernando Lugo no Paraguai, Ollanta Humala no Peru, Manuel Zelaya em Honduras, Gustavo Petro na Colômbia, além do Movimento 5 Estrelas na Itália e do Podemos na Espanha.

Carvajal foi extraditado para os Estados Unidos em 2023, onde responde a acusações de tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro e colaboração com as FARC no contrabando de cocaína.

Veja o que se sabe sobre ele.
 
Do interior venezuelano ao núcleo chavista

Hugo Armando Carvajal Barrios nasceu em Puerto La Cruz, no leste da Venezuela, em 1960, em uma família de origem modesta. Formado na Academia Militar de Venezuela, destacou-se como um oficial disciplinado e leal aos ideais nacionalistas que ganhavam força nas Forças Armadas durante a década de 1980.

Essa trajetória o aproximou de Hugo Chávez, com quem compartilhou o descontentamento em relação à corrupção e à dependência externa do país. Carvajal participou ativamente da rede de militares que apoiou o golpe fracassado de 1992, liderado por Chávez contra o então presidente Carlos Andrés Pérez. O episódio selou sua entrada no núcleo duro do chavismo e marcou o início de sua ascensão política.

Com a chegada de Chávez ao poder, em 1999, Carvajal tornou-se um dos homens mais poderosos do novo regime. Como chefe da Direção de Inteligência Militar (DIM), posição que ocupou por quase uma década, ele supervisionava operações de espionagem interna, vigilância política e cooperação com serviços secretos estrangeiros, incluindo Cuba. Sua função era proteger o governo de ameaças internas e externas, monitorar opositores e garantir a lealdade das Forças Armadas.

Ao mesmo tempo, segundo investigações internacionais, foi nesse período que Carvajal teria estabelecido conexões com grupos como as FARC e redes de tráfico de drogas, que usavam o território venezuelano como rota para os Estados Unidos e a Europa.
 
Diplomata e deputado

Em janeiro de 2014, Hugo Carvajal foi nomeado cônsul-geral da Venezuela em Aruba. O cargo lhe concedia status diplomático e imunidade internacional. Mesmo assim, ele foi preso pelas autoridades locais a pedido dos Estados Unidos, que já o investigavam por envolvimento com o narcotráfico.

A detenção provocou uma crise entre Caracas e o governo do Reino dos Países Baixos, responsável por Aruba. Após pressão diplomática, a chancelaria neerlandesa reconheceu a validade da imunidade de Carvajal, e ele foi libertado em menos de uma semana, retornando à Venezuela como herói entre aliados do chavismo.

Mais tarde, Carvajal ingressou na política formal. Elegeu-se deputado na Assembleia Nacional pelo estado de Monagas nas eleições de 2015, integrando a bancada do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Como parlamentar, chegou a mover ações judiciais contra jornalistas que o acusavam de corrupção e envolvimento com o tráfico, buscando preservar sua reputação.
 
“El Pollo” e o narcotráfico

Ao longo da década de 2000, o governo americano e aliados na região passaram a investigar a atuação do chamado “Cartel dos Sóis”, um esquema envolvendo membros das Forças Armadas venezuelanas no tráfico de cocaína. Carvajal está no centro dessas investigações.

Autoridades americanas o acusaram de participar de uma conspiração de narcoterrorismo, de importar cocaína para os EUA e de delitos relacionados a armas, além de envolvimento em operações que teriam ligado membros do alto escalão militar venezuelano a grupos guerrilheiros colombianos como as FARC. Essas são as acusações que culminaram no mandado de prisão americano.
 
Ruptura com Maduro e fuga

Após denúncias de fraude eleitoral e falta de transparência nas eleições presidenciais de 2018, diversos países, incluindo os Estados Unidos, Brasil e grande parte da União Europeia, não reconheceram a reeleição de Maduro e passaram a apoiar o opositor Juan Guaidó, então presidente da Assembleia Nacional, como presidente interino legítimo.

Foi nesse contexto que Hugo Carvajal, até então aliado próximo de Maduro, rompeu com o governo chavista. Ele se aproximou de setores da oposição para articular uma transição de poder e fornecer informações estratégicas que pudessem enfraquecer o regime de Maduro. Em vídeos e comunicados públicos, o ex-chefe de inteligência classificou o líder da Venezuela como “usurpador” e exortou as Forças Armadas a restaurarem a ordem constitucional.

O movimento fez parte de uma tentativa de pressionar militar e diplomaticamente a saída de Maduro, enquanto buscavam apoio internacional para consolidar uma administração paralela reconhecida globalmente.

A partir daí sua relação com o regime, até então de íntima colaboração, se deteriorou. Em fevereiro de 2019, ele fugiu da Venezuela por via marítima, em uma travessia de cerca de 16 horas até a República Dominicana, de onde seguiu para a Espanha. Em abril do mesmo ano, já instalado em Madri, foi detido pela polícia espanhola a pedido dos Estados Unidos.

Audiência em Madri (2019) avaliou a extradição de Hugo Carvajal, ex-chefe de contrainteligência militar venezuelana, aos EUA por narcotráfico. (Foto: EFE/ Emilio Naranjo)

Carvajal passou a responder em liberdade até ser novamente preso em setembro de 2021, após meses foragido, e teve sua extradição para os EUA autorizada pela Justiça espanhola em 2023.

Nos Estados Unidos, o ex-general enfrentou uma acusação formal no Distrito Sul de Nova York. E em 25 de junho de 2025, Carvajal se declarou culpado em tribunal federal de quatro acusações, entre elas conspiração de narcoterrorismo e tráfico de cocaína. A declaração de culpa ocorreu na véspera do que seria o seu julgamento.

Essa admissão de culpa complicou a posição pessoal de Carvajal pelo risco de prisão perpétua, mas abriu a possibilidade (real ou especulada) de que ele venha a fornecer informações que ainda não vieram totalmente a público e que possam afetar investigações sobre redes transnacionais de droga, lavagem de dinheiro e relações ilícitas entre atores estatais e criminosos.
 
O que mais Carvajal denunciou

Depois de romper com Maduro, Carvajal afirmou ter conhecimento de operações que vinculavam altos militares venezuelanos ao tráfico de drogas, alegou cooperação entre setores do Estado venezuelano e grupos armados, como as FARC. Ele citou ainda supostas relações entre Venezuela e atores estatais ou paraestatais de países como Irã, além de indicar a existência de redes de influência e financiamento que alcançariam outros governos e políticos na América Latina.

Essas alegações, feitas em declarações públicas e em entrevistas, teriam sido por sua posição de delator, em vista dos benefícios decorrentes da cooperação com as autoridades americanas. Entretanto, procuradores dos Estados Unidos disseram publicamente que não havia, no momento da declaração de culpa, um acordo de leniência divulgado, o que não muda a relevância das informações que ele já ofereceu.

O governo Maduro, por sua vez, qualificou suas declarações como fabricadas ou motivadas por interesses pessoais e políticos, uma reação típica em casos dessa natureza. As denúncias de Carvajal, portanto, entraram no campo não só jurídico, mas também político e diplomático.
 
Os desdobramentos possíveis

Desde a declaração de culpa em junho de 2025, Carvajal está sob custódia federal nos Estados Unidos enquanto aguarda sua sentença, prevista para ser proferida por um tribunal federal em Manhattan neste mês.

Mas o seu protagonismo na história brasileira tem gerado maior repercussão desde a entrevista exclusiva que ele concedeu a jornalista brasileira Elisa Robson. Ela compilou as declarações no livro “Carvajal, Lula e o sequestro da América Latina”, lançado em 2022. Na obra, ele expõe também a atuação de grupos como Foro de São Paulo, a máfia italiana e o PCC com a esquerda brasileira.

Na segunda-feira (20), aliás, Elisa Robson participou de uma transmissão ao vivo no YouTube em que denunciou supostas intimidações da Polícia Federal a mando de Alexandre de Moraes a pessoas ligadas às suas investigações sobre Hugo Carvajal.

Segundo Elisa, uma pessoa próxima a ela teria sido mantida “por mais de oito horas sem água, sob ameaça de prisão”, em uma tentativa de forçar mais informações sobre o que descobriram durante as conversas com o ex-chefe de inteligência venezuelano. As declarações foram feitas em uma conversa com a juíza exilada Ludmila Lins Grilo.

Comentando o caso, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que as acusações da jornalista sobre Moraes estariam contribuindo para que o Brasil entrasse na “perigosa rota de se tornar tão inimigo dos Estados Unidos quanto é a Venezuela de Maduro ou a Colômbia do Petro”.

Fonte: Por Desirée Peñalba

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