Al Pacino sobre 'O Poderoso Chefão': 'Levei uma vida inteira para aceitar e seguir em frente'

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Al Pacino sobre 'O Poderoso Chefão': 'Levei uma vida inteira para aceitar e seguir em frente'

Filme comemora 50 anos nesta segunda-feira (14).O ator Al Pacino em Londres. Foto: PHILIP MONTGOMERY / NYT

Porto Velho, RO - É difícil imaginar "O Poderoso Chefão" sem Al Pacino. Seu desempenho como o discreto Michael Corleone, que se tornou um herói de guerra respeitável apesar de sua família corrupta, passa quase despercebido na primeira hora do filme — até que finalmente ele se afirma, gradualmente assumindo o controle da operação criminosa Corleone e do filme junto com ele.

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Mas também não existiria Al Pacino sem "O Poderoso Chefão". O ator era uma estrela em ascensão do teatro em Nova York, com apenas um papel em filme, no drama de 1971 "The Panic in Needle Park", quando Francis Ford Coppola lutou por ele, contra a vontade da Paramount Pictures, para interpretar o príncipe ruminado de seu épico. Meio século de papéis cinematográficos fundamentais se seguiram, incluindo mais dois trabalhos como Michael Corleone em "O Poderoso Chefão parte II" e "Parte III."

Thank you for watching

A pré-estreia de "O Poderoso Chefão" aconteceu em 14 de Março de 1972, em Nova York, e 50 anos depois, você pode imaginar todas as razões para que Pacino não queira mais falar sobre o filme. Talvez ele fique envergonhado ou irritado sobre como essa performance, desde o início de sua carreira no cinema, continua dominando seu currículo, ou talvez ele já tenha dito tudo o que há para dizer.

Mas em uma entrevista por telefone no mês passado, Paccino, de 81 anos, foi bastante filosófico, mesmo caprichoso, sobre a discussão do filme. Ele continua a ser um admirador fervoroso do filme e de como Coppola e seus colegas de elenco o apoiaram, e ele ainda está impressionado com a forma como ele sozinho lhe deu sua carreira.

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"Estou aqui porque fiz 'O Poderoso Chefão'", disse Pacino, falando de sua casa em Los Angeles. "Para um ator, é como ganhar na loteria".

Pacino falou mais sobre ter sido chamado para protagonizar o filme, o peso de seu legado e porquê ele nunca mais interpretou um personagem como Michael Corleone.


Quando você recebe uma ligação pedindo para falar sobre "O Poderoso Chefão", tem uma parte de você que pensa, "meu Deus, de novo"? Se tornou tedioso?

Bem, não. Eu espero isso. Você espera falar sobre coisas que deram certo e coisas que não. Você só vai: Ok, estive aqui, fiz isso. Mas é legal. É melhor do que falar comigo mesmo sobre isso.

Como o papel de Michael Corleone apareceu?

Naquela época, eu não tinha escolha. Francis me queria. Eu tinha feito um filme e eu não estava tão interessado em cinema. Minha cabeça estava em outro lugar. Me sentia deslocado nos primeiros filmes que fiz. Lembro de dizer ao Charlie (Laughton, seu mentor, professor de teatro e amigo): "Uau, eles falam sobre isso ser real, mas enquanto isso não é. Porque há fios por toda parte. E também, você tem que fazer de novo! (Risos.) Você faz isso e eles dizem, bem, vá de novo, faça de novo". É real e não real ao mesmo tempo. O que leva algum tempo para se acostumar.

Quando você e Coppola se conheceram?


Francis tinha uma produtora, a Zoetrope, e pessoas como Steven Spielberg, George Lucas, Scorsese e De Palma eram parte do grupo. Eu lembro de ver alguns deles quando Francis me chamou para ir a São Francisco depois de me assistir em uma peça da Broadway. Você conhece essa história? Estou contando histórias velhas agora (risos).

Tudo bem. É para isso que estamos aqui.


Ele me viu no palco (em 1969 no espetáculo da Broadway "Does a Tiger Wear a Necktie?") mas eu não o conheci. Ele tinha escrito "Patton" na época e me enviou um script de uma incrível história de amor que ele escreveu (nunca foi produzida). Ele queria me ver. Isso significava que eu tinha que pegar o avião e ir até São Francisco, o que não era comum para mim. Eu pensei, "tem outro jeito de ir? Eu não posso pedir para ele voltar aqui, posso?" Eu fui. Passei cinco dias com ele. Foi realmente especial. Mas fomos rejeitados, é claro. Eu era um ator desconhecido e ele tinha feito dois filmes "You're a Big Boy Now" e "The Rain People". Então, voltei para casa e não ouvi mais falar dele.

Mas, eventualmente, você ouviu. Quando foi isso?

"Panic in Needle Park" não tinha saído ainda e eu recebi uma ligação de Francis Coppola — um nome do passado. Primeiro, ele disse que iria dirigir "O Poderoso Chefão". Eu pensei "bem, ele pode estar passando por um 'minibreakdown' ou algo assim. Como deram para ele "O Poderoso Chefão"?

Você não pensou que fosse possível de ele fazer?

Eu preciso te dizer, era um grande livro. Quando você é ator, você nem coloca os olhos nessas coisas. Elas não existem para você. Você está em um lugar na vida em que não é aceito para esses grandes filmes — pelo menos ainda não. E ele disse que não só ele estava dirigindo (gargalhando), mas que ele queria que eu fizesse. Desculpe, eu não quis rir. É que pareceu tão ultrajante, que eu estava falando com alguém fora de si. Eu respondi para ele: "Em que pegadinha eu estou?". Ele queria que eu fizesse Michael. Pensei "ok, vou entrar na dele". Disse: "Sim, Francis, bom." Era verdade e recebi o papel.

A Paramount se opôs à ideia de ter você no papel.

Bem, eles rejeitaram todo o elenco! (risos). Eles rejeitaram Brando, Jimmy Caan e Bob Duvall.


"O poderoso chefão" Foto: Paramount Pictures

Existiu algum momento durante as gravações que você percebeu que seria tão bom quanto é?


Você lembra da cena do funeral de Marlon? O sol estava baixando, então, naturalmete, eu estava feliz porque eu poderia ir para casa e tomar uns drinks. Eu estava indo embora pensando que tinha sido um ótimo dia, eu não tinha falas, nenhuma obrigação. Todo dia sem falas é um ótimo dia. Então, estou voltando e sentado em uma lápide está Francis Coppola, choramingando como um bebê. Fui até ele e disse: "Francis o que aconteceu?" Ele respondeu: "Eles não vão me dar outra chance". Querendo dizer que eles não o deixariam fazer outra montagem. Aí eu pensei: "Ok, acho que estou em um bom filme". Porque ele tinha uma paixão, ela estava lá.

Você assistiu ao filme recentemente?


Não, eu devo ter visto há dois ou três anos. É o tipo de filme que quando você começa a ver, você cotinua.

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Fica constrangido de ver seus filmes?

Não, eu gosto de assistir. Eu penso assim "O Poderoso Chefão" vai estar passando de qualquer forma. Mas você fica surpreso quando se dá conta de quantas pessoas nunca assistiram.

Você está encontrando pessoas que estão cientes de "O Poderoso Chefão" como um fenômeno cultural, mas que ainda não assistiram?

Eles já ouviram falar. "Ah, eu ouvi — você estava nisso? Era um filme, não era?" "Sim. Então foi 'Citizen Kane', a propósito — Eu estava nisso, também." Eles não sabem.

Há uma inquietude intensa em como você interpreta Michael em "O Poderoso Chefão" que eu não acho que eu já vi em suas outras performances de filmes. Foi uma parte de você que foi embora ou foi apenas a natureza do personagem que chamou para ele?

Gosto de pensar que era a natureza dessa pessoa em particular e dessa interpretação. Não consigo pensar em nenhum outro personagem que eu fiz que poderia ter usado esse tipo de estrutura. Eu era um jovem ator — na "Parte III", eu não era mais jovem, mas isso não é minha culpa. (risos.)

Mas em comparação com outros personagens que você também está intimamente associado, como Tony Montana em "Scarface."

Bem, esse personagem foi escrito por Oliver Stone e dirigido por Brian De Palma, que queria uma realidade elevada. Brian queria fazer uma ópera. Tudo o que eu queria fazer era imitar Paul Muni. (risos.) Mas se eu colocar "Dog Day Afternoon" com "Godfather", ou "Serpico", eu não vejo uma semelhança lá. Você chamaria Michael de mais introspectivo? Isso é o que eu diria. E eu não sei de quaisquer outros personagens introspectivos que eu interpretei. Mas se me sentar contigo e for ao almanaque, encontraremos algo.

Você recebeu sua primeira indicação ao Oscar por "O Poderoso Chefão", mas não compareceu à cerimônia naquele ano. Estava protestando porque foi indicado como ator coadjuvante e não como protagonista?

Não, absolutamente não. Eu estava naquela fase da minha vida em que eu era um pouco rebelde. Eu não acho que Bob (De Niro) foi para um deles. George C. Scott nem sequer foi. Eles tiveram que acordá-lo. (Risos.) Marlon não foi. Olha, Marlon devolveu o Oscar. Que tal isso? Eles estavam se rebelando contra a coisa de Hollywood. Esse tipo de coisa estava no ar.

Então tudo isso contribuiu para seus sentimentos na época sobre sua crescente fama?

Eu estava um pouco desconfortável em estar naquela situação, estar naquele mundo. Eu também estava trabalhando em uma peça em Boston naquela época (em "Richard III"). Mas isso foi uma desculpa. Eu só estava com medo de ir. Eu era jovem, mais jovem do que meus anos. 

Eu era jovem em termos de novidade de tudo isso. Era a antiga síndrome do tiro-de-um-canhão. E está ligado a drogas e esse tipo de coisas, nas quais eu estava envolvido lá atrás, e acho que isso teve muito a ver com isso. Eu não sabia das coisas naquela época.


Filme O poderoso chefão 2 Foto: Paramount Pictures

Quando você ganhou um Oscar por "Scent of a Woman", havia alguma parte de você que ainda desejava tê-lo ganho por interpretar Michael Corleone?

Absolutamente não. Se eu pensar nisso agora, eu diria, "Claro, eu deveria ter ganhado! Eu teria três Oscars! Eu seria como os caras grandes." (risos.) Não, eu não acho isso. É uma coisa séria. Você está sendo honrado por algo.

Então você está confortável agora com os elogios que recebeu - e continua a receber - por sua performance em "O Poderoso Chefão"?

Sim, estou profundamente honrado por isso. Realmente estou. É uma obra em que tive a sorte de estar. Mas levou-me uma vida para aceitá-lo e seguir em frente. Não é como ter interpretado o Super-Homem.

Fonte: Globo

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