Transtorno do espectro autista: do diagnóstico infantil aos direitos

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Transtorno do espectro autista: do diagnóstico infantil aos direitos


Pais devem ficar atentos para buscar o diagnóstico precoce e garantir direitos à criança com transtorno do espectro autista.| Foto: Bigstock

Porto Velho, RO
- Enfileirar os carrinhos de modo impecável, separar objetos por cores, guardar com destreza e outros comportamentos ao brincar foram alguns sinais que alertaram Thaís e Cristiano, pais do Miguel, hoje com 5 anos, para algum tipo de transtorno.

“Como temos na família essa característica de organização, continuei observando. Pouco tempo depois percebi o quanto o Miguel sofria quando não conseguia fazer as coisas de determinada forma que ele pré-estabelecia”, conta a mãe que, após meses de investigação, teve seu filho diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), em grau leve.

A presença de padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, atividades ou interesses são características presentes no TEA, podendo ocorrer alterações em suas expressões durante o desenvolvimento do indivíduo. Por isso, é muito importante que os pais busquem um diagnóstico precoce para garantir um desenvolvimento funcional da criança, além de lhe garantir seus direitos previstos em lei.

O que é o TEA?

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento, que apresenta déficits na comunicação e interação social do indivíduo, em diferentes contextos, e relações sociais pouco compreendidas ou inexistentes, explica o psicólogo clínico e escolar Hamilton Vedovato de Marque.

A origem do transtorno é considerada multifatorial, já que não há dados específicos que o definam. A neurologista pediatra Mayara Rezende Machado, da Paraná Clínicas, empresa do Grupo SulAmérica, explica que é necessária uma combinação de fatores de risco genético e não genético, inclusive ambientais que, interagindo entre si, culminam em um quadro clínico possível de diagnosticar o TEA.

Clinicamente, segundo a neuropediatra, as crianças poderão apresentar dois grupos de sintomas: o primeiro inclui déficit de comunicação e de interações sociais, enquanto o segundo apresenta questões comportamentais, com padrões de interesses e atividades bem característicos.

Níveis de gravidade do autismo

Além da variação do quadro clínico, há níveis de gravidade do transtorno. De Marque explica que eles são classificados pela gravidade na comunicação social e de comportamentos restritos e repetitivos, diferenciados conforme a necessidade de suporte da pessoa.

“O nível 1 exige apoio, o nível 2 busca apoio substancial, enquanto aqueles que se encontram no nível 3 exigem muito apoio. Os indivíduos com TEA podem também ser alocados em diferentes graus, desde os mais severos (autismo de baixo funcionamento) até os menos severos (autismo de alto funcionamento)”, explica o psicólogo.

Sinais de alerta no comportamento infantil


Os primeiros sintomas, segundo De Marque, podem ser observados nos primeiros anos de vida, como atraso no desenvolvimento da linguagem, problemas no comportamento social, comportamento estereotipado e repetitivo e atraso no desenvolvimento de áreas do desenvolvimento.

Normalmente os pais começam a se preocupar entre os 12 e os 18 meses, na medida que percebem que a linguagem e a comunicação não se desenvolvem. Por isso, o psicólogo alerta que os cuidadores tomem bastante cuidado com os marcos de desenvolvimento contínuo infantil, e que qualquer atraso seja investigado. “Dependendo da situação, conseguimos ver os primeiros sinais até no primeiro ano de vida, quando os familiares relatam um contato visual pobre, pouca interação, que já esperamos ser possível de se realizar a partir de um ou dois meses”, conta a neuropediatra.

Mayara esclarece que conforme a demanda social aumenta, o quadro clínico fica mais visível, já que há uma interação maior com os pares e um maior estímulo do desenvolvimento da comunicação.

Além dos pais, a escola tem um papel fundamental para identificar atrasos e dificuldades a nível comportamental e pedagógico, visto que no contexto escolar a criança está em constante contato com os outros e com muitos estímulos que devem ser respondidos. “Os educadores são profissionais treinados para identificar possíveis déficits e excessos comportamentais, e que muitas vezes fazem o primeiro alerta aos familiares”, enfatiza De Marque.

“Apresentados sinais de alerta, como brincadeiras e comportamentos repetitivos, que não façam uso de imaginação ou atraso na aquisição da habilidade social ou linguística, os pais devem procurar um pediatra. Tal profissional consegue identificar se as características correspondem de fato em alerta para o autismo ou não. Identificados esses sinais, a criança deverá ser encaminhada para um neuropediatra para concluir o diagnóstico”, orienta Mayara.

O diagnóstico formal, feito ou por um médico neuropediatra, ou por um psiquiatra infantil, acrescido do posicionamento de terapeutas com experiência e formações específicas através de avaliações comportamentais, é fundamental para a garantia dos direitos da pessoa com TEA.

Primeiros passos após o diagnóstico

Diagnosticado o autismo, a família deve buscar orientação em fontes seguras. “É muito importante que todos entendam sobre o funcionamento do autismo e as características específicas daquela criança, além de ter muita clareza de quais são os seus interesses, que facilitarão o estabelecimento de vínculo, e também quais são suas dificuldades, o que possibilitará que sejam estabelecidas estratégias para promover melhor mediação da interação e socialização”, destaca o psicólogo.

As crianças identificadas com o TEA necessitam principalmente de estímulo, para o desenvolvimento de sua autonomia e habilidades de vida diária e comportamentais, orienta de Marque. Para isso, é importante que a família busque estratégias com terapeutas e as adapte aos diferentes contextos da vida da criança.

“É comum serem solicitadas terapias como psicoterapia, terapia com base em ABA (Applied Behavior Analysis, ou, em português, análise do comportamento aplicada), fonoaudiologia e terapia ocupacional, entre outras intervenções que visam desenvolvimento de habilidades acadêmicas, habilidades comportamentais e habilidades sociais”, orienta o profissional.

Autismo não define

Thaís conta que os profissionais que os auxiliaram no diagnóstico de seu filho buscavam desenvolver uma qualidade de vida para o Miguel, contribuindo para que se torne uma criança funcional, capaz de se expressar e criar vínculos, independentemente do diagnóstico que viesse a ser identificado. “O Miguel é o Miguel, não é o autismo dele que o identifica”, destaca a mãe.

Dessa forma, buscando um acompanhamento multidisciplinar, as habilidades das crianças com transtorno de espectro autista podem ser potencializadas, destaca Mayara. “Muitos têm o interesse e conhecimento muito bom e até autodidata com tecnologia, matemática, música e outras áreas. Assim, respeitando o limite da criança, é possível estimulá-las conforme seus interesses”, explica a médica.

Direitos garantidos às crianças diagnosticadas com TEA


Por precisarem de uma maior atenção, as crianças com o diagnóstico têm direitos que garantem um adequado tratamento para seu desenvolvimento, como também podem facilitar sua adaptação às atividades do cotidiano.

A Lei Berenice Piana, promulgada em 2012, instituiu a política nacional de proteção aos direitos da pessoa com transtorno do espectro autista, garantindo que a pessoa diagnosticada passe a ser considerada pessoa com deficiência para todos os efeitos legais. Além disso, a criança deve ter garantida a intervenção e atendimentos multiprofissionais, tanto no nível do Sistema Único de Saúde, quanto à cobertura dos custos por planos de saúde, orienta o psicólogo.

Já na questão educacional, as crianças têm direito à educação especial e inclusiva, garantido o acesso à sala de aula regular com adaptações curriculares necessárias e acompanhamento de um profissional de apoio, caso seja necessário. De Marque destaca que é imprescindível que os terapeutas façam constantes orientações aos pais e à escola sobre manejo pedagógico e condução de situações inadequadas. Assim, os comportamentos das crianças podem ser conduzidos da forma mais similar possível nos diversos contextos, conforme cada ambiente permita.

Outro direito é o desconto na compra de um automóvel com a redução do IPI, IPVA, bem como direito à vaga preferencial no estacionamento são garantidos para aqueles diagnosticados com o transtorno. “Pense numa criança que tem uma série de questões comportamentais, hipersensibilidade auditiva dentro de um ônibus lotado, vai ser muito estressante para ela. Por isso é adequado garantir algumas facilidades”, acredita Mayara.

É importante ainda lembrar dos cuidados necessários às crianças diagnosticadas com TEA, principalmente em questões sensoriais. A neuropediatra orienta que todos cuidem com o toque físico, com o barulho e até mesmo com o que se fala sem ter consciência da profundidade do que pode magoar uma criança com transtorno de espectro autista.

“Se a gente respeitar essa criança, o espaço dela, a forma como ela se coloca naquele ambiente, ela não vai se sentir acuada, evitando qualquer alteração de comportamento”, conclui Mayara.

Fonte: Por Sissy Zambão, especial para o Sempre Família

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