
(Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)
Porto Velho, RO - O senador Sérgio Moro (União-PE) conversou com o programa e a coluna Entrelinhas, da Gazeta do Povo, sobre os bastidores da política nacional, os desafios de segurança pública e o futuro das eleições de 2026. Apontado como favorito ao governo do Paraná, ele comentou ainda sobre sua relação com o partido União Brasil, os desdobramentos do 8 de Janeiro e a atuação do Congresso diante do Supremo Tribunal Federal.
Crítico ao que considera uma “deterioração institucional”, o senador criticou o desmantelamento da Operação Lava Jato, na qual atuou como juiz, defendeu o avanço da CPMI do INSS e uma legislação mais rigorosa contra o crime organizado. Com forte atuação na pauta da segurança, ele garantiu que "não haverá trégua contra o crime no Paraná" e se mostrou preocupado com o risco do país “caminhar para um narcoestado”.
Entrelinhas: Seu nome aparece em primeiro lugar nas pesquisas para o governo do Paraná. Como estão as perspectivas do senhor para 2026?
Moro: Eu estou focado no meu mandato no Senado neste ano. Tem muita coisa acontecendo, muitos projetos sendo aprovados, a CPMI do INSS, que é extremamente importante, e também a CPI do Crime Organizado. Existe essa possibilidade de disputar o governo do Paraná, mas isso eu vou decidir mais adiante. Fico honrado pela preferência da população paranaense nas pesquisas, mas temos que bater o martelo mais para frente, até para respeitar o fato de que não estamos em ano eleitoral. O paranaense quer saber o que a gente está fazendo aqui e agora.
Entrelinhas: Pensando em 2026, o senhor vê algum nome pronto para liderar a direita se Bolsonaro permanecer inelegível?
Moro: O que posso dizer é que não estarei na disputa presidencial. Se tiver plano eleitoral, será para o governo do Paraná. Bolsonaro é a liderança mais forte, apesar das restrições jurídicas. Caso ele não possa concorrer, temos nomes como Tarcísio, Caiado, Ratinho Júnior, Zema… O importante é que o campo da direita esteja unido contra um novo governo do PT. Sem autofagia.
Entrelinhas: A conjuntura nacional influencia sua decisão para 2026?
Moro: Preocupa muito o que estamos vendo: uma progressiva deterioração institucional. No pior cenário possível, a gente tem a reeleição do Lula, o que tem gerado uma escalada da criminalidade, enfraquecimento da economia. Nesse caso, precisamos de mãos firmes para proteger o nosso Paraná a partir de 2027. Isso me faz pensar seriamente em colocar meu nome à disposição.
Entrelinhas: Como o senhor vê a escalada do crime organizado?
Moro: Combati o crime organizado no Ministério da Justiça e sou o único ex-ministro da Justiça alvo de plano de vingança do crime. O Paraná não está imune. Vimos tiroteio à luz do dia em Curitiba, gangues se enfrentando, ataque com metralhadora. Precisamos endurecer a legislação. Esse papo de que endurecer não resolve é falácia. Tenho orgulho de ter contribuído para o fim das saídas temporárias, e relatei o projeto do “narcocídio”. Mas temos que fazer mais, com estratégia e inteligência.
Entrelinhas: O senhor é filiado ao União Brasil, que agora integra uma federação com o Progressistas. Como isso pode impactar uma eventual candidatura sua?
Moro: A federação é uma força política considerável, com muitos deputados e senadores. Formou-se uma centro-direita ali, uma direita também. É bom que haja um centro político que acredite no livre mercado, no combate à criminalidade e na responsabilidade fiscal. Essas questões partidárias — quem apoia quem — são tratadas nos bastidores e vão se acomodar ao longo do ano. Quem aparece com 40%, 50% nas pesquisas, com perspectiva de ganhar até no primeiro turno, não vai ter dificuldade para encontrar essas acomodações.
Entrelinhas: O senhor tem sido crítico ao desmonte da Lava Jato. Como vê os últimos acontecimentos?
Moro: O que é curioso é que ninguém diz que os condenados são inocentes. Mas sempre acham uma filigrana para invalidar os processos. O país está doente moralmente. Hoje, qualquer operação contra a corrupção tem destino incerto. Veja o caso do INSS: se fosse na Lava Jato, os responsáveis já estariam presos. O que me espanta é: não tem ninguém preso até o momento. Na época da Lava Jato isso, seria impensável. O desmantelamento político da Lava Jato é a causa desse novo escândalo — os ladrões se sentiram à vontade para roubar. E agora estão roubando os mais vulneráveis: aposentados por invalidez, viúvas, órfãos. É uma vergonha absoluta.
E, veja só, o Brasil mandou avião da FAB para buscar uma primeira-dama corrupta do Peru e dar asilo político a ela. É uma inversão completa de valores.
Entrelinhas: E sobre o caso do juiz Marcelo Bretas?
Moro: O CNJ errou. Bretas foi condenado com base numa delação de um advogado ressentido, que nem foi homologada pelo STJ. Usaram isso para punir o juiz que prendeu Sérgio Cabral e ajudou a recuperar dinheiro para pagar salários no Rio. Agora querem até impedir que ele advogue. Lembro do Rui Barbosa defendendo a magistratura em 1896. Hoje, vivemos algo semelhante.
Entrelinhas: Há seletividade do governo no enfrentamento a essas fraudes?
Moro: Sim. A AGU propôs bloqueio de bens de entidades envolvidas, mas excluiu a Contag, que foi a maior beneficiária dos descontos. Isso não tem explicação. Alegam que ela não foi criada exclusivamente para a fraude, mas a fraude existiu. A Contag, inclusive, estaria por trás de emendas para acabar com a necessidade de revalidação da autorização dos descontos. Isso sem falar do sindicato cujo vice-presidente é irmão do Lula. Por que foram excluídos? É por isso que precisamos da CPMI.
Entrelinhas: O Congresso parece fragilizado diante do Judiciário. É possível recuperar o equilíbrio?
Moro: Precisamos restaurar o equilíbrio entre os poderes. Fui juiz por 22 anos e respeito o Judiciário, mas temos visto decisões preocupantes. O STF, ao julgar o artigo 19 do Marco Civil da Internet, acabou legislando. Isso é tarefa do Congresso. Se o Supremo não concorda com a lei, que declare inconstitucional. Mas reescrever leis não está em seu mandato. Só com uma nova maioria no Congresso será possível restabelecer as prerrogativas do Parlamento. Não é guerra entre poderes, mas equilíbrio.
Entrelinhas: E quanto ao PL da Anistia, que está engavetado, o que podemos esperar?
Moro: Eu apresentei um projeto de redução de penas. Houve exageros — temos gente condenada a 16, 17 anos, inclusive uma senhora de idade. Isso é absolutamente injusto. Mas, para que avance, precisa-se de construção política. Eu, hoje, sou favorável à anistia. Essas pessoas já sofreram demais. Se for possível a anistia, ótimo. Se for a redução de penas, também. O que importa é que essas pessoas voltem para casa.
Fonte: Por Mariana Braga
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