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A Guerra do Século e o Brasil no lado errado da história

O presidente Lula e o ditador chinês Xi Jinping. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Você já pensou que o mundo anda enlouquecendo, que nada mais faz sentido?

Há 80 anos, cerca de 70 milhões de pessoas morreram para derrotar o nazismo: um regime ditatorial, antidemocrático e antissemita.

Hoje, quem ainda não entendeu que há uma guerra acontecendo entre regimes ditatoriais, antidemocráticos e antissemitas contra as democracias vitoriosas na Segunda Guerra Mundial, ainda não entendeu o século XXI.

A Segunda Guerra Mundial resultou em duas superpotências. Os Estados Unidos capitalista e a União Soviética comunista/socialista, competiam pela supremacia global durante a chamada Guerra Fria, criando dois blocos: o “Primeiro Mundo” (EUA e demais democracias) e o “Segundo Mundo” (União Soviética e países sob sua influência). O Terceiro Mundo consistia nos países na África, Ásia e América Latina que não estavam estreitamente alinhados com esses blocos.

O “Segundo Mundo” se esfacelou. O comunismo nunca funcionou nos 47 países onde foi tentado. Estima-se que o regime comunista da União Soviética tenha causado a morte de aproximadamente 62 milhões de pessoas e a China comunista tenha causado a morte de cerca de 77 milhões de pessoas.

O muro de Berlim caiu em 1989; a União Soviética se transformou em 15 países independentes, incluindo a Rússia, a partir de 1991. A China está “recolonizando” a África e já é dona de 7% desse imenso território que acomoda 54 países soberanos. A Rússia busca ativamente exercer influência em diversas regiões, incluindo a Comunidade de Estados Independentes (CEI), partes da África e algumas nações da Ásia.

Além disso, existem hoje vários blocos de países em desenvolvimento, incluindo a Área Continental de Livre Comércio Africana (AfCFTA), a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e o Mercosul.

O bloco BRICS, criado a partir de 2001, é atualmente composto por onze países: seus cinco membros originais – Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul – e seis novos membros admitidos em 2024-25 – Egito, Etiópia, Indonésia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

Enfim, o mundo bipolarizado do final do século XX se transformou em uma rede mais complexa de países em competição por mercados, zonas de influência, recursos e poder.

Assim como a Segunda Guerra Mundial foi uma continuação da Primeira, agora há uma Terceira Guerra Mundial não declarada

De um lado, temos os EUA, União Europeia e demais democracias. Do outro lado, o capitalismo totalitário da China, o capitalismo autoritário da Rússia e o capitalismo islâmico - representado pelo Irã xiita e pela Arábia Saudita sunita, entre outros países não democráticos. O verdadeiro conflito não é mais entre “comunismo/socialismo” e “capitalismo”, como na guerra fria dos anos 50, mas entre tipos diferentes de “capitalismo” com valores e políticas totalmente diferentes.

Alguns pensam que China, Irã e Rússia seriam de “esquerda”, enquanto os EUA e Europa seriam de “direita”. Outros dizem genericamente que há um conflito entre “Ocidente” e “Oriente”. O fato é que, como sempre, há disputas acirradas por supremacia global e muitas complexidades que desafiam rótulos e generalizações.

Vejam: tarifaço, Lei Magnitsky, BRICS, a guerra Rússia-Ucrânia, o conflito entre Israel e Hamas, a islamização da Europa, a divisão do mundo entre governos de “direita” e governos de “esquerda”, as risíveis bravatas de Lula desacatando os EUA ou envergonhando o Brasil ao abandonar a Aliança em Memória ao Holocausto, as guerras de narrativas na imprensa, etc. são facetas dessa mesma realidade prismática que se acelera e desafia nossa compreensão e sanidade. Tudo isso está conectado.

E por que temos a impressão de que há alguma coisa profundamente errada acontecendo?

Segundo especialistas, todos nós temos uma noção básica do que é “certo” ou “errado” a partir da infância. No mundo adulto, há parâmetros objetivos para definir se um país age “certo” ou “errado”: Indicadores Econômicos (PIB, taxas de juros, taxas de emprego, taxas de inflação, vendas no varejo); Índices (Confiança do Consumidor, Confiança Empresarial, Confiança do Investidor); Governança (transparência na aplicação das leis, proteção ao direito de propriedade, eficácia governamental, controle da corrupção, estabilidade política); Capital Social (expectativas mútuas de confiabilidade entre pessoas facilitam uma economia forte).

O somatório de todos esses fatores define o “caráter” de um país, a confiança dos investidores, o valor de sua moeda, a força de sua economia, e, em última análise, a qualidade de vida de seus habitantes. Já vimos esse filme antes: quando um líder arrasta um país para o lado errado da História, a população sofre.

É por isso que os cubanos arriscam a vida em uma balsa para chegar a Miami e africanos fazem o mesmo para chegar na Europa. É por tudo isso que o dólar tem sido usado para lastrear o comércio internacional, apesar das tentativas da China e Rússia para fortalecer suas moedas.

Uma moeda BRICS tem poucas chances de funcionar bem porque investidores sérios hesitam em lastrear investimentos com garantias soberanas de ditaduras – onde as regras do jogo são manipuláveis.

O capitalismo autoritário, existente na China, Rússia, Irã, e países sob sua influência, se caracteriza por um papel dominante do Estado, particularmente em setores estratégicos (energia, comunicações, indústria bélica, infraestrutura); há forte dependência da exploração de recursos naturais; há um arcabouço institucional frágil que não assegura transparência, nem concorrência leal ou direitos de propriedade; há corrupção e estruturas oligárquicas, com concentração de riqueza e poder nas mãos de poucos atores fortemente ligados ao partido político no poder.

Por sinal, a China tem mais bilionários (em dólar) do que a Europa, são 516 comunistas de carteirinha que vivem muito bem. Magnitsky foi um advogado russo assassinado na prisão em 2009 por denunciar a corrupção bilionária na Rússia. Enfim, são modelos que concentram renda, e isso explica por que a disparidade social é maior na China, Irã e Rússia do que nos EUA.

Então por que a esquerda mundial está ao lado desses países onde há maior disparidade social? Como sempre, há uma combinação de fatores: marketing e narrativas prometendo “justiça social”, muito dinheiro de impostos sendo investido em veículos de comunicação para divulgar narrativas falsas, censura de mídias sociais, dependência da população a ajudas oficiais do governo, parcerias com empresários selecionados que fazem o jogo do governo com cartas marcadas.

O Brasil, governado por um presidente que abertamente se alinha à China, Irã e Rússia, parece seguir pelo mesmo caminho. A proposta antissemita do Partido dos Trabalhadores de romper relações com Israel e a “guerra comercial” aos EUA também indica isso claramente.

O maior absurdo é que há uma inteligência de planejamento influenciando as democracias ocidentais pelo menos de duas formas: 1) jovens iludidos pela doutrina woke achando que vão melhorar o mundo mudando de sexo ou odiando brancos de olhos azuis; 2) capitalistas como George Soros e similares nacionais investindo em plataformas de esquerda porque assim manipulam governos com mais facilidade, sem os riscos de uma economia livre, competitiva e transparente.

Os próximos anos irão literalmente definir que tipo de mundo teremos nas próximas décadas. Estou falando de uma guerra mundial acontecendo não só em cada país, mas em cada mente do planeta, dividindo famílias, universidades e o próprio fundamento ético da humanidade.

Há uma luta entre capitalismos ditatoriais e capitalismos democráticos: China, Irã, Rússia fazendo de tudo para derrubar os EUA e vice-versa. O mais preocupante é que o Brasil parece ter escolhido um lado.

Nesse caso, simpatizar com a “justiça social” prometida pela “esquerda” é muito mais atraente do que entender a competitividade de um mercado transparente defendido pela “direita”. Ninguém se dá ao trabalho de aceitar que um mercado livre possa gerar justiça social.

Porém, se existir boa governança sem corrupção generalizada, esse é o único mecanismo historicamente comprovado que gerou riqueza de forma democrática. Foi por falta disso que a economia centralizada da União Soviética faliu.

A solução passa por uma mudança cultural, pelo abandono de ideias fixas sobre “direita” e “esquerda”, por uma maneira de pensar acima das "boas intenções" superficiais.

Dar dignidade a um povo significa compartilhar os objetivos de permitir trabalho, saúde, segurança, transporte, casa, e, acima de tudo, educação. Sem ideologia barata, sem promessas vazias, sem corrupção, sem salários milionários e penduricalhos inflados para cooptar o apoio de funcionários públicos às nossas custas.

No Brasil ainda temos políticos sérios comprometidos com valores éticos. E mais: a grande maioria da população brasileira prefere que o Brasil continue uma democracia livre, conforme demonstrado nas manifestações de rua no último domingo, 3 de agosto.

Há 80 anos atrás, cerca de 70 milhões de pessoas morreram combatendo o perigo de um mundo nacional-socialista/ nazista. Hoje, corremos o risco real de sermos arrastados placidamente para um Brasil e um mundo ditatorial, antidemocrático e antissemita. A indignação contra isso só depende de você.

 * Jonas Rabinovitch é arquiteto urbanista com 30 anos de experiência como Conselheiro Sênior em inovação, gestão pública e desenvolvimento urbano da ONU em Nova York.

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