
Porto Velho, RO - Há em curso um novo cerco ao Supremo Tribunal Federal, desta vez com apoio da Casa Branca. A pressão que a Corte sofre é inédita. Diferentemente de outras situações - como naquela em que Sara Winter liderou uma turba de mascarados com tochas em punho, na Praça dos Três Poderes - aqui a ação não é performática. Inexiste gritaria. É um movimento profissional, cuidadosamente articulado com agentes políticos e exercido desde uma posição em que os magistrados brasileiros não têm capacidade de reação, tampouco podem contar com salvaguardas do governo brasileiro, imobilizado pelas tarifas.
Eduardo Bolsonaro tem mais conexões em Washington junto ao governo Donald Trump do que qualquer integrante da diplomacia lulopetista liderada por Celso Amorim. Ele construiu isso ao longo do tempo, inteirando-se da política norte-americana e estabelecendo pontes e elos comunicantes com novas lideranças do Partido Republicano, oriundas do movimento Make America Great Again. De tal forma que até importou para o Brasil uma versão do Conservative Political Action Conference. Um dos painelistas da edição de 2021 do evento, aliás, foi justamente Jason Miller, à época barrado no aeroporto por ordem de Alexandre de Moraes e, hoje, um proeminente conselheiro político do núcleo trumpista.
Paulo Figueiredo, por sua vez, é mais inteligente e articulado do que a soma dos jornalistas que o têm como fonte. E só ignora isso quem vira a cara por desprezo ideológico ou por não o acompanhar desde antes de ingressar na mídia, quando virou comentarista da Jovem Pan. Reduzi-lo à condição de “neto do ditador” só por ter parentesco com o último general a comandar o Regime Militar é uma simplificação grosseira e que tenta estabelecer a crítica política tendo como pressuposto o que seria culpa por descendência. É elementarmente errado.
Nunca se sabe onde a Magnitsky vai pegar amanhã, nem até quando as punições americanas se darão
É claro que nenhum dos dois “faz a cabeça de Trump”, até porque o presidente americano pode ser muitas coisas, mas não tem a característica de ser submisso a ideias alheias ou ser "influenciável". Mas eles têm mais acesso a ele e a seu entorno do que qualquer outra autoridade brasileira formalmente constituída. Enquanto Fernando Haddad tem uma agenda com Scott Bessent cancelada sem qualquer aviso prévio, Eduardo e Figueiredo são convidados a ter reuniões de alto nível na Casa Branca, inclusive para discutir eventuais novas sanções.
Alexandre de Moraes e seus pares, por sua vez, não têm muito a fazer. Seus despachos não alcançam Trump, mas as ordens executivas do presidente americano os atingem em cheio, bem como o país. E, ainda que se tente disfarçar normalidade, ser alvo da Lei Magnitsky, com todas as restrições que ela gera ao seu alvo, bem como a terceiros, consiste em um fardo financeiro quase insustentável. E, claro, tal fardo tem efeito no mundo da política, que é percebido pelos atores partidários. Nunca se sabe onde a Magnitsky vai pegar amanhã, nem até quando as punições americanas se darão. Até aqui, as instituições foram resilientes a tais pressões, mas nunca se sabe até quando.
A escalada nas investigações e o processo por tentativa de golpe de Estado movidos contra Jair Bolsonaro deixaram os limites territoriais do Brasil e se tornaram o epicentro de uma inédita crise geopolítica com os Estados Unidos. É nesse receio e nessa perspectiva de novas reprimendas que se alicerça a estratégia de cerco e asfixia geopolítica que tem como objetivo final dobrar o Legislativo brasileiro e colocar o próprio STF no banco dos réus.
Fonte: Por Guilherme Macalossi
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