Editorial Lula e a festa dos ditadores na Rússia

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Editorial Lula e a festa dos ditadores na Rússia


Presidente Lula em jantar com Vladimir Putin, ditador russo. (Foto: Ricardo Stuckert / PR)


Porto Velho, RO - Poucas horas depois de o novo papa Leão XIV ter rezado junto com os fiéis na Praça São Pedro, em Roma, pedindo pela paz no mundo, Luiz Inácio Lula da Silva estava ao lado de ditadores e autocratas de diversos países, na Praça Vermelha, em Moscou, na Rússia, em apoio a Vladimir Putin, responsável por trazer de volta à Europa e ao mundo os horrores das grandes guerras que arrasaram o continente europeu no passado.

Usando como justificativa a comemoração dos 80 anos da vitória soviética sobre a Alemanha nazista, o ditador russo até tentou atrair outros chefes de Estado, mas, sabiamente, nenhum líder de democracia ocidental relevante aceitou se rebaixar ao servilismo de dar apoio ao responsável pela invasão da Ucrânia, que devasta o país há três anos. Ainda assim, o ditador da Rússia pôde contar com os velhos aliados de sempre, incluindo Lula, que, desde o início do conflito em solo ucraniano, sempre deixou claro seu alinhamento ao Kremlin.

Lula escolheu estar ao lado de ditadores, e, nesse processo, arrasta perigosamente o Brasil para longe das democracias consolidadas, comprometendo sua imagem internacional e relativizando princípios que deveriam ser inegociáveis para qualquer nação que se diga livre

Lula chegou à Rússia na quarta-feira (7) – Janja chegou antes, no sábado (3) – e participou de uma série de eventos e reuniões com outros convidados de Putin, como os ditadores de Cuba, Miguel Díaz-Canel; da Venezuela, Nicolás Maduro; e da China, Xi Jinping. A China, aliás, será o próximo destino de Lula, que participará da 4ª Reunião Ministerial do Fórum China-CELAC (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) no país comunista, nos dias 12 e 13.

O ponto alto, porém, foi o desfile militar desta sexta-feira (9), no qual Putin, com seus colegas ditadores a seu lado – incluindo a delegação brasileira formada por Lula, Janja, o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, o chanceler Mauro Vieira e a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovações do Brasil, Luciana Santos –, exibiu as armas usadas na invasão da Ucrânia, fez com que combatentes desfilassem e, cinicamente, tentou comparar a ação da então União Soviética contra os nazistas com a atual agressão russa contra os ucranianos.

Sem público nas ruas, cercadas por forças de segurança e barreiras metálicas, o espetáculo armado por Putin foi reflexo das ditaduras que, ainda que se digam populares, excluem e oprimem o povo, e o usam como justificativa para seus regimes de terror. Em seu discurso, Putin afirmou contar com o apoio de “todo o país, a sociedade e a população” à invasão da Ucrânia, eufemisticamente tratada pela máquina estatal russa como “operação militar especial”. Como bem definiu o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi “um desfile de bile e mentiras” – que contou com os aplausos de Lula.

Como de costume, a diplomacia brasileira insiste em evocar a justificativa do “multilateralismo” ou da necessidade de ampliar “alianças estratégicas”. O próprio Lula referiu-se à viagem à Rússia e ao encontro com o ditador Putin como um “momento histórico”, dizendo que o Brasil tem interesses “políticos, interesses comerciais, interesses culturais, interesses científico-tecnológicos com a Rússia” e que, por seu lado, a Rússia “deve ter muitos interesses com o Brasil”. O presidente brasileiro reforçou ainda que a intenção da visita seria construir parcerias estratégicas entre os países, especialmente nas áreas de defesa, espaço, ciência e tecnologia, educação, aviação e energia.

Mas nada disso justifica uma agenda internacional cada vez mais inclinada aos interesses de autocracias que espezinham valores democráticos fundamentais. O argumento de uma suposta “neutralidade” – que jamais existiu da parte de Lula em relação à guerra na Ucrânia – ou do pragmatismo estratégico já não convence ninguém: Lula escolheu estar ao lado de ditaduras como a Rússia, e, nesse processo, arrasta perigosamente o Brasil para longe das democracias consolidadas, comprometendo sua imagem internacional e relativizando princípios que deveriam ser inegociáveis para qualquer nação que se diga livre. Há uma diferença fundamental entre defender uma diplomacia soberana e flertar com regimes que desprezam a democracia, esmagam as liberdades e opositores e manipulam seus povos com propaganda – como a Rússia de Putin e outras ditaduras com as quais Lula busca cada vez mais proximidade.

Fonte: Por Gazeta do Povo

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