
Porto Velho, RO - Apesar de todos os incentivos fiscais e de crédito do governo federal, a economia apresenta claros sinais de desaceleração. Ao contrário dos anos anteriores, cujas revisões das projeções ocorriam para cima, em 2025 o ajuste é para baixo. Até o próprio governo revisou a taxa de crescimento de 2,5% para 2,3%.
A menor variação do PIB no 2º trimestre confirma essa tendência, com crescimento na margem de 0,4%. Nesse resultado, chamou a atenção a queda de 2,2% nos investimentos das empresas.
A má notícia é a continuidade da trajetória de desaceleração. Os dados mais recentes apontam para queda da atividade econômica. Em julho, a produção industrial e as vendas no varejo apresentaram, respectivamente, quedas de 0,2% e 0,3%, enquanto o IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, apresentou variação negativa de 0,5%.
O menor crescimento da economia brasileira já era esperado por conta dos efeitos defasados da política monetária. Empresas e consumidores começam a sentir o efeito da Selic de um ano atrás, quando a taxa ainda estava em 10,75% a.a. Isso ocorre porque, de acordo com alguns estudos, a política monetária demora pelo menos 9 meses para fazer efeito na economia real.
Seguindo essa lógica, o menor crescimento da economia deverá ocorrer em 2026, quando a Selic atual de 15% a.a. começará a ser sentida na economia real por consumidores e empresários. Por outro lado, o governo buscará, a todo custo, crescimento econômico, turbinando a política fiscal, com expansão do gasto público.
Se, de um lado, a teoria econômica keynesiana diz que o aumento do gasto gera mais crescimento econômico no curto prazo, por outro, a linha mais liberal defende que a incerteza e a elevação dos juros poderão prevalecer sobre o efeito do estímulo fiscal, gerando queda dos investimentos.
Mesmo com os estímulos fiscais do governo, a economia poderá desacelerar, ou até mesmo retrair, por conta da elevação dos juros e da piora das expectativas de investidores e empresários
Esse cenário, inclusive, já ocorreu no passado. No último ano do governo Dilma Rousseff, houve um forte expansionismo fiscal, e a economia desacelerou. Mesmo com os incentivos do governo e com a Selic artificialmente baixa durante o seu primeiro mandato, os empresários ficaram com medo de investir, dada a incerteza eleitoral da reeleição da ex-presidente.
Situação parecida poderá ocorrer no ano que vem. Incertezas eleitorais, somadas aos efeitos defasados da Selic a 15% a.a., poderão levar a economia brasileira à recessão, inclusive com aumento na taxa de desemprego.
Apesar da desaceleração econômica, o desemprego continua baixo por conta dos efeitos retardados dessa variável, que costuma responder tardiamente ao ciclo econômico. Como há custos de demissão e de admissão, e gastos com treinamento, as variáveis do mercado de trabalho respondem posteriormente à ocorrência da desaceleração da economia.
Em sentido contrário, as variáveis do mercado financeiro agem antecipadamente ao ciclo econômico. Nesse caso, observa-se o menor ritmo de crescimento da atividade econômica juntamente com a elevação da bolsa.
Não há contradição nesse movimento. Pelo contrário, o mercado aposta que, futuramente, a inflação vai arrefecer, a Selic cair e a economia voltar a crescer, apesar do cenário desfavorável no presente – caracterizado por desaceleração da economia, inflação acima da meta, inadimplência elevada e deterioração fiscal.
Nessa aposta, há um componente político. O mercado espera alguma mudança de política econômica em 2027, a partir da vitória de algum candidato de direita. O otimismo da bolsa é concomitante com os últimos movimentos do Centrão, chancelando uma candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. A bolsa segue os passos de Gilberto Kassab.
Fonte: Por Alan Ghani
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